João Cabral de Melo Neto – Versos na tarde – 09/07/2014
Tecendo a Manhã João Cabral de Melo Neto ¹ 1 Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. 2 E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. inA Educação pela Pedra ¹ João Cabral de Melo Neto * Recife, PE. – 9 de Janeiro de 1920 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 9 de Outubro de 1999 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]