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Cora Coralinda – Versos na tarde – 28/03/2014

A gleba me transfigura Cora Coralinda ¹ Sinto que sou abelha no seu artesanato. Meus versos tem cheiro de mato, dos bois e dos currais. Eu vivo no terreiro dos sítios e das fazendas primitivas. (…) Minha identificação profunda e amorosa com a terra e com os que nela trabalham. A gleba me transfigura. Dentro da gleba, ouvindo o mugido da vacada, o mééé dos bezerros. O roncar e focinhar dos porcos o cantar dos galos, o cacarejar das poedeiras, o latir do cães, eu me identifico. Sou árvore, sou tronco, sou raiz, sou folha, sou graveto sou mato, sou paiol e sou a velha tulha de barro. pela minha voz cantam todos os pássaros, piam as cobras e coaxam as rãs, mugem todas as boiadas que vão pelas estradas. Sou espiga e o grão que retornam a terra. Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando, é o arado milenário que sulca. Meus versos tem relances de enxada, gume de foice e o peso do machado. Cheiro de currais e gosto de terra. (…) Amo a terra de um velho amor consagrado. Através de gerações de avós rústicos, encartados nas minas e na terra latifundiária, sesmeiros. A gleba está dentro de mim. Eu sou a terra. (…) Em mim a planta renasce e floresce, sementeia e sobrevive. Sou a espiga e o grão fecundo que retorna à terra. Minha pena é enxada do plantador, é o arado que vai sulcando. Para a colheita das gerações. Eu sou o velho paiol e a velha tulha roceira. Eu sou a terra milenária, eu venho de milênios Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada e fecundada no ventre escuro da terra. ¹ Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas * Cidade de Goiás, GO. – 20 de Agosto de 1889 d.C + Goiânia, GO. – 10 de Abril de 1985 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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