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Henriqueta Lisboa – Versos na tarde – 16/01/2014

Serenidade Henriqueta Lisboa¹ Há muito tempo, Vida, prometeste trazer ao meu caminho uma doida alegria feita de espírito e de chama, uma alegria transbordante, assim como esse alvo clarão que se irradia da orla festiva das enseadas, e entre reflexos de ouro se derrama do cântaro das madrugadas. Eu, que nasci para um destino manso de coisas suaves, silenciosas, imprecisas, e que fico tão bem neste obscuro remanso onde apenas se infiltra um perfume de brisas, imagino a tremer: que seria de mim se essa alegria esplêndida, algum dia, houvesse surpreendido a minha inexperiência!… A vida me iludiu, mas foi sábia na essência. Minha alegria deveria ser assim: Pequenina doçura delicada, gota de orvalho em pétala de flor, sempre serena lâmpada velada que me diluísse as brumas do interior. Sempre serena lâmpada velada, símbolo do meu sonho predileto… Se amanhã tu penderes do meu teto aureolando minha última ilusão, – para que eu viva em teu amor e em tua paz, deixa um rastro de sombra pelo chão… É nesta sombra que hei de me esconder quando sentir a falta que me faz a outra alegria que não pude ter! do livro Velário (1930 – 1935) ¹Henriqueta Lisboa * Lambari, MG. – 15 de Julho de 1904 d.C + Belo Horizonte, MG. – 9 de Outubro de 1985 d.C Escritora brasileira. Considerada pela crítica uma das poetas mais bem-sucedidas da moderna literatura do país. Pouco conhecida do público, a mineira Henriqueta Lisboa foi consagrada por críticos do porte de Antônio Cândido e Alfredo Bosi como uma das poetisas mais bem-sucedidas da moderna literatura brasileira. Estudou no Colégio Sion da cidade de Campanha MG e dedicou-se ao magistério. Estudou línguas e letras no Rio de Janeiro e, em Belo Horizonte, lecionou literatura nas universidades locais. Desde o segundo livro, Enternecimento (1929), recebeu vários prêmios literários, inclusive a Medalha da Inconfidência de Minas Gerais, com Madrinha Lua (1952), e o Prêmio Brasília de Literatura (1971) pelo conjunto de sua obra. Inicialmente identificada com o simbolismo, Henriqueta Lisboa aceitou a influência do modernismo, mas permaneceu fiel aos temas de sua terra e de sua gente. A partir de Prisioneira da noite (1941) atingiu um lirismo que, nas palavras de Alfredo Bosi, distingue-a como “sutil tecedora de imagens capazes de dar uma dimensão metafísica a seu intimismo radical”. Autora ainda de A face lívida (1945), seu livro mais importante, Flor da morte (1949), Lírica (1958) e outras obras. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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