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Baudelaire – Versos na tarde – 02/01/2014

Recolhimento Baudelaire¹ Sê sábia, ó minha dor, e queda-te mais quieta. Reclamavas a tarde; eis que ela vem descendo: Sobre a cidade um véu de sombras se projeta, A alguns trazendo a angústia, a paz a outros trazendo. Enquanto dos mortais a multidão abjeta, Sob o flagelo do prazer, algoz horrendo, Remorsos colhe à festa e sôfrega se inquieta, Dá-me, ó dor, tua mão; vem por aqui, correndo Deles. Vem ver curvarem-se os anos passados Nas varandas do céu, em trajes antiquados; Surgir das águas a saudade sorridente; O sol que numa arcada agoniza e se aninha, E, qual longo sudário a arrastar-se no Oriente, Ouve, querida, a doce noite que caminha. ¹Charles Pierre Baudelaire * Paris, França – 09 de Abril de 1821 d.C + Paris, França – 31 de Agosto de 1867 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Trema. Carta de adeus

Carta de despedida… Como outros já fizeram, quero também me despedir do trema, cuja morte foi anunciada por decreto a partir de 1º de janeiro. Não uma, mas cinqüenta e cinco vezes quero me despedir desta acentuação antiqüissima e usada com tanta freqüência. Fomos argüídos a respeito? Claro que não! A ambigüidade que tínhamos para decidir se queríamos usar o trema ou não numa frase nos foi seqüestrada para sempre. Afinal, a ubiqüidade do trema nunca nos foi exigida. Quem deve se beneficiar com esta tão inconseqüente medida? Creio que tão somente os alcagüetes, os delinqüentes e os sangüinários, justamente aqueles que não estão eqüidistantes, como nós, dos valores eqüiláteros da Sociedade. Vocês já se argüiram sobre as conseqüências do fim do trema para os pingüins, os sagüis e os eqüestres? Estes perderão uma identidade conquistada desde a antigüidade. E o que dizer do nosso herói Anhangüera, que vivia tranqüilo com o seu nome indígena? Com a liqüidação do trema, a pronúncia do seu nome não será mais exeqüível. Os nossos papos de chopp nunca mais serão os mesmos, pois a tão freqüente lingüicinha acebolada vai desagüar num sangüíneo esquecimento. O que vai acontecer com o grão de bico com gergilim, agora sem o liqüidificador para prepará-lo? Ah, meu Deus! Tenha piedade de nós! Nunca mais poderemos escrever que “a última enxagüada é a que fica”! Não sei se vou agüentar a perda da eloqüência, em termos de estilo literário, que o trema trazia à Última Flor do Lácio. É preciso que averigüemos se haverá seqüelas futuras! E para onde vai a grandiloqüência dos lingüistas? Haja ungüento para suportar tamanha dor! O que podemos esperar em seqüência? Será que não se poderia esperar mais um qüinqüênio para que fossem melhor avaliados os líqüidos benefícios desta mudança? Portanto, pela qüinqüagésima vez, a minha voz exangüe se une à dos bilíngües e trilíngües como eu, cuja consangüinidade lingüística e contigüidade sintática se revolta ante tamanha iniqüidade. Pedir que nos apazigüemos, para mim é inexeqüível, pois falta-nos tranqüilidade diante de tamanha delinqüência gramatical. Portanto é com dor no coração que lhe dou este meu adeus desmilingüido. Adeus, meu trema querido! Mas pelo menos uma coisa me apazigüa, pois quando a saudade bater, sei que vou poder revê-lo quando estiver lendo alguma coisa em alemão. Nota do editor: recebido por e-mail de autor não identificado [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Arquitetura

O insólito edifício diet Clique na imagem para ampliar [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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