Ledo Ivo – Versos na tarde – 09/12/2013
Sobrevivente Ledo Ivo¹ Sou um sobrevivente na passagem entre o dia e a noite. Onde estão as figuras de antigamente – em que estrelas, em que túmulos se esconderam? Gari implacável, a vida varre os sonhos dos homens e, na praça vazia, vagam os fantasmas dos fracassos dissimulados e dos gordos perjúrios. Sozinho na grande cidade que engole as promessas dos homens, vejo-me passar de repente no jovem poeta desconhecido que atravessa o meu caminho. Deixo de ser eu mesmo para ser, por um instante, o jovem poeta sem nome. Que ele seja fiel à sua promessa de agora, eis o que peço. Que ele seja uma dessas criaturas para as quais nada é perdido, segundo a lição de Henry James. Mas a quem dirigir esse pedido? Os deuses inexistentes não me ouvem. À vida cega e surda? Ao mar longínquo e mudo? O jovem poeta Ledo Ivo dilui-se na sombra da tarde. E anoitece”. ¹Lêdo Ivo * Maceió, AL – 18 de Fevereiro de 1924 d.C + Sevilha, Espanha – 23 de dezembro de 2012 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]