Arquivo

João Cabral de Melo Neto – Versos na tarde – 25/10/2013

Pequena Ode Mineral João Cabral de Melo Neto¹ Desordem na alma que se atropela sob esta carne que transparece. Desordem na alma que de ti foge, vaga fumaça que se dispersa, informe nuvem que de ti cresce e cuja face nem reconheces. Tua alma foge como cabelos, cunhas, humores, palavras ditas que não se sabe onde se perdem e impregnam a terra com sua morte. Tua alma escapa como este corpo solto no tempo que nada impede. Procura a ordem que vês na pedra: nada se gasta mas permanece. Essa presença que reconheces não se devora tudo em que cresce. Nem mesmo cresce pois permanece fora do tempo que não a mede, pesado sólido que ao fluido vence, que sempre ao fundo das coisas desce. Procura a ordem desse silêncio que imóvel fala: silêncio puro. De pura espécie, voz de silêncio, mais do que a ausência que as vozes ferem. ¹ João Cabral de Melo Neto * Recife, PE. – 9 de Janeiro de 1920 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 9 de Outubro de 1999 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »