Blogs, tecnologia e imprensa tradicional
Quais os limites da tecnologia? Quais as vantagens e desvantagens dos avanços tecnológicos para o futuro da mídia e especialmente do jornalismo tradicional? Até onde os blogs definem um novo paradigma de jornalismo? Estas e outros temas correlatos estão em três livros lançado na Inglaterra. Por JOHN LLOYD, autor de “What the Media Do to Our Politics” [O Que a Mídia Faz para Nossa Política] e colaborador do jornal “Financial Times”, onde a íntegra deste texto foi publicada.Tradução de Paulo Migliacci. Os últimos 150 anos foram a era do jornalismo heróico, um período em que os jornalistas desenvolveram sua auto-imagem como responsáveis por corrigir os males da sociedade. O período produziu testemunhas do horror, tais como William Howard Russell, do “The Times”, cujos artigos sobre a Guerra da Criméia ajudaram a destruir um governo e a modernizar o Exército britânico. Houve jornalistas como o escritor francês Émile Zola, que colocaram sua pena a serviço da indignação, diante das falsas acusações movidas contra o capitão Alfred Dreyfus. Já o jornalismo de denúncia ao estilo norte-americano gerou talentos como o de Ida Tarbell, que expôs as práticas da Standard Oil no começo do século 20 -período em que era difícil ver mulheres ocupando posições no jornalismo fora das páginas literárias e de moda.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] E, dos anos 1960 em diante, uma legião de repórteres investigativos justificou sua existência com a criação de um quadro de profissionais intransigentes que exigiam que os poderosos prestassem contas. Esses repórteres foram imensamente beneficiados pela fama e pelo status de Ed Murrow, jornalista de rádio e TV da [rede norte-americana] CBS nos anos 1950, e pelos jornalistas Carl Bernstein e Bob Woodward, do “Washington Post”, famosos por suas reportagens sobre o caso Watergate no começo dos anos 1970. De diferentes maneiras, três livros recentes são produto da transição da era do jornalismo heróico para… O que, exatamente? Por enquanto, o novo modelo não tem nome. As primeiras indicações são de que o melhor termo seja “era demótica”, devido à explosão de blogs, sites de redes sociais, e-mails e textos que a internet propiciou nos últimos dez anos -e tudo isso com uma intensidade não vista nem mesmo no período epistolar mais intenso da era vitoriana. Em “SuperMedia” [ed. WileyBlackwell, 216 págs., 14,99, R$ 53], Charlie Beckett considera a nova era sob esses termos. Antecipa o momento em que essa forma de jornalismo cidadão suplantará o modelo convencional e, em suas palavras, “salvará o mundo”. Em “Can You Trust the Media?” [Você Pode Confiar na Mídia?, Icon Books, 256 págs., 12,99, R$ 46], Adrian Monck, ex-produtor da ITV e da Sky e hoje professor de jornalismo na Universidade Metropolitana de Londres, derruba os mitos da era do jornalismo heróico ao negar esse heroísmo. E os ensaios da coletânea “UK Confidential” [Reino Unido Confidencial, Instituto Demos, Charlie Edwards e Catherine Fieschi (org.), 184 págs., 10, R$ 36] tratam da moderna suposição de que figuras públicas têm pouco ou nenhum direito a uma vida privada. Blogs e nostalgia