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Maquiavel – Reflexões na tarde – 08/06/2013

Ao magnífico Lorenzo, filho de Piero de Médicis ¹Nicolau Maquiavel As mais das vezes, costumam aqueles que desejam granjear as graças de um príncipe trazer-lhe os objetos que lhes são mais caros, ou com os quais o vêem deleitar-se; assim, muitas vezes, eles são presenteados com cavalos, armas, tecidos de ouro, pedras preciosas e outros ornamentos dignos de sua grandeza. [ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]Desejando eu favorecer a Vossa Magnificência um testemunho qualquer de minha obrigação, não achei, entre os meus cabedais, coisa que me seja mais cara ou que tanto estime quanto o conhecimento das ações dos grandes homens apreendido por uma longa experiência das coisas modernas e uma contínua lição das antigas; as quais, tendo eu, com grande diligência, longamente cogitado, examinando-as, agora mando a Vossa Magnificência, reduzidas a um pequeno volume. E conquanto julgue indigna esta obra da presença de Vossa Magnificência, não confio menos em que, por sua humanidade, deva ser aceita, considerando que não lhe posso fazer maior presente que lhe dar a faculdade de poder em tempo muito breve aprender tudo aquilo que, em tantos anos e à custa de tantos incômodos e perigos, hei conhecido.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Não ornei esta obra e nem a enchi de períodos sonoros ou de palavras empoladas e floreios ou de qualquer outra lisonja ou ornamento extrínseco com que muitos costumam descrever ou ornar as próprias obras; porque não quis que coisa alguma seja seu ornato e a faça agradável senão a variedade da matéria e a gravidade do assunto. Nem quero que se repute presunção o fato de um homem de baixo e ínfimo estado discorrer e regular sobre o governo dos príncipes; pois os que desdenham os contornos dos países se colocam na planície para considerar a natureza dos montes, e para considerar a das planícies ascendem aos montes, assim também para conhecer bem a natureza dos povos é necessário ser príncipe, e para conhecer a dos príncipes é necessário ser do povo. Tome, pois, Vossa Magnificência este pequeno presente com a intenção com que eu o mando. Se esta obra for diligentemente considerada e lida, Vossa Magnificência conhecerá meu extremo desejo que alcance aquela grandeza que a Fortuna e outras qualidades lhe prometem. E se Vossa Magnificência, do ápice da sua altura, alguma vez volver os olhos para baixo, saberá quão sem razão suporto uma grande e contínua má sorte. Nicolau Maquiavel¹ * Florença, Itália – 03 Maio 1469 d.C + Florença, Itália – 20 Junho 1527 d.C =>Biografia de Maquiavel

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Distúrbios em São Paulo

A cidade conflagrada Os jornais de sexta-feira (7/6) descrevem, com imagens fortes, as cenas de violência ocorridas na véspera em São Paulo, onde manifestantes contrários ao aumento do preço das passagens de ônibus provocaram depredações e causaram grandes congestionamentos na região central da cidade. “Caos, fogo e depredação”, destaca o Estado de S.Paulo. “Confronto e vandalismo”, registra a Folha. O Globo informa que, além da capital paulista, também houve protestos no Rio, em Natal e em Goiânia pelo mesmo motivo, organizados pelo Movimento Passe Livre. [ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]Como sempre, há divergências quanto ao número de participantes: os porta-vozes do movimento contaram 3 mil pessoas, a Polícia Militar calculou a multidão em 2 mil pessoas no início da passeata e a Guarda Civil Metropolitana afirma que a aglomeração não passou de mil indivíduos. As imagens exibidas pela televisão e expostas nas redes sociais mostravam que, na Avenida Paulista, o grupo estava reduzido a cinco ou seis centenas de manifestantes. No Rio, segundo o Globo, duzentas pessoas caminharam da igreja da Candelária até a estação Central do Brasil, provocando no caminho interrupções do trânsito e entrando em confronto com a polícia. As manifestações foram convocadas pelas redes sociais digitais, que até na manhã de sexta-feira ainda exibiam comentários e imagens, com debates exaltados. O canal informativo GloboNews acompanhouao vivo grande parte da movimentação em São Paulo, documentando a caminhada pela Avenida Paulista, onde alguns dos participantes destruíram uma cabine da Polícia Militar, depredaram uma banca de jornais e deixaram sacos de lixo em chamas ao longo da pista. As tomadas aéreas permitiam observar como um número relativamente reduzido de pessoas é capaz de paralisar as principais vias da maior cidade do país e agravar ainda mais a difícil situação do trânsito no momento da volta para casa. Os jornais mostram estação do metrô com vidros quebrados, registram o pânico de transeuntes que tentaram se abrigar dentro de um shopping center e informam que a causa de tudo foi o aumento de 20 centavos na tarifa. Mas não discutem a questão central: o sistema de transporte público. Catracas livres Curiosamente, os jornais não trazem nas edições de sexta-feira a fartura de declarações de manifestantes que geralmente ilustram as reportagens sobre eventos que conturbam a cidade. O movimento é definido genericamente como uma iniciativa de universitários e estudantes secundaristas, embora tenha sido identificado entre eles pelo menos um sindicalista, presidente do Sindicato dos Metroviários. Nas redes sociais, o movimento Passe Livre, que defende o transporte coletivo grátis, ensina como enfrentar a polícia e como se prevenir contra o efeito do gás lacrimogêneo e do gás pimenta. Interessante notar a preocupação dos organizadores em definir seu perfil ideológico. Em sua página no Facebook, fazem questão de afirmar que o material “não foi feito por nenhum coletivo burguês-estudantil e sim por anarquistas insurrecionários”. Pela rede social pode-se acompanhar os relatos de manifestantes, provavelmente feitos de seus smartphones, ao mesmo tempo em que parte dos usuários critica os atos de vandalismo, enquanto outros lamentam ter que trabalhar ou estudar e não poder participar do movimento. A página também contém informações sobre o sistema de transporte de São Paulo, mostrando tabelas de subsídios pagos pela Prefeitura a um consórcio de ônibus que é campeão de multas e irregularidades. O material contido nas redes sociais digitais é mais extenso e mais diversificado do que as reportagens dos jornais, embora, por motivos óbvios, menos organizado. Por ali se pode observar que a causa é considerada justa pela maioria das pessoas que manifestam suas opiniões, mas há também uma condenação geral aos atos de vandalismo. O Passe Livre, que tem grupos organizados em várias cidades do país, se apresenta como um “movimento social autônomo, horizontal, independente e apartidário que luta por um transporte público gratuito e de qualidade, sem catracas e sem tarifa”. Os jornais poderiam ajudar o leitor a formar uma opinião sobre essa proposta, que já foi tentada como política oficial quando Luiza Erundina era prefeita de São Paulo. Na ocasião, a imprensa apoiou o lobby das empresas de ônibus, e muitas perguntas ficaram sem resposta. Quanto custa subsidiar as frotas de empresas privadas? Quanto custaria liberar as passagens? Existem experiências como essa em outras cidades? Qual seria o efeito do transporte gratuito sobre a economia? Algumas planilhas poderiam ajudar os cidadãos a entender o que há por trás do custo do transporte público. Por Luciano Martins Costa/Observatório da Imprensa

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Sistema carcerário no Japão

Sistema Carcerário Japonês. No momento em que se discute o sistema carcerário no Brasil, apesar de ser uma questão em crise desde seu nascedouro e que nunca mereceu dos poderes constituídos a atenção devida e indispensável, vale a pena conhecer resumidamente como o Japão trata do assunto. [ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]Vamos ao fatos: A filosofia que dirige o sistema carcerário japonês é diferente da que rege todos os outros presídios ocidentais, que tentam reeducar o preso para que ele se reintegre a Sociedade. O objetivo, no Japão, é levar o condenado ao arrependimento. Como errou, não é mais uma pessoa honrada e precisa pagar por isso. “Além de dar o devido castigo em nome das vítimas, o período de permanência na prisão serve como um momento de reflexão no qual induzimos o preso ao arrependimento”, explica Yutaka Nagashima, diretor do Instituto de Pesquisa da Criminalidade do Ministério da Justiça. Os métodos para isso são duros para olhos ocidentais, mas em nada lembram os presídios brasileiros, famosos pela superlotação, formação de quadrilhas, violência interna e até abusos sexuais. A organização e limpeza imperam e os detentos têm espaço de sobra. Ficam no máximo seis por cela. Estrangeiros têm um quarto individual. Além disso, ninguém fica sem trabalhar e não tem tempo livre para arquitetar fugas. O dia do preso japonês começa às 6h50min. Às 8h ele já está na oficina trabalhando na confecção de móveis ou brinquedos. Só pára por 40 minutos para o almoço e trabalha novamente até as 16h40min. Durante todo este período nenhum tipo de conversa é permitido, nem durante as refeições. O preso volta à cela e fica ali até 17h25min, quando sai para o jantar. Às 8h tem que retornar ao quarto, de onde só sairá no dia seguinte. Banhos não fazem parte da programação diária. No verão eles acontecem duas vezes por semana. No inverno apenas um a cada sete dias. “Não pode ser diferente porque faltam funcionários. Mas damos toalhas molhadas para eles limparem o corpo”, justifica-se Yoshihito Sato, especialista em Segurança do Departamento de Correção do Ministério da Justiça. Logo ao chegar à penitenciária, os presos recebem uma rígida lista do que poderão ou não fazer. Olhar nos olhos de um policial, por exemplo, é absolutamente proibido. Cigarro não é permitido em hipótese alguma. Na hora da refeição o detento deve ficar de olhos fechados até que receba um sinal para abri-los. Qualquer transgressão a uma das determinações e o detento termina numa cela isolada. Apesar de oferecer tudo o que teria num quarto normal (privada, pia e cobertor), ela tem pouca iluminação. Se houver reincidência na falha, será punido com algemas de couro, que imobilizam os braços nas costas. Elas não deixam nenhum tipo de marca, mas impedem o preso de fazer coisas básicas. “Os policiais colocam a comida dentro de uma cela numa tigela. Sem a ajuda das mãos, o preso tem que comer como se fosse um cachorro. Também tem dificuldades para fazer as necessidades fisiológicas”, reclama Yuichi Kaido, advogado do Centro de Proteção dos Direitos dos Presos. Se ainda assim o detento desrespeitar outras regras, será mandado para a solitária – a pior de todas as punições. Ficará num minúsculo quarto escuro e não poderá se sentar durante o dia. O controle é feito por uma câmera interna. Muitos presos, principalmente os estrangeiros, se indignam com o tratamento e processam o Estado pelos maus tratos. “Recebemos todo ano mais de cem processos contra as prisões. Mas na maioria dos casos eles perdem porque agimos exatamente dentro do que prevê a lei”, afirma Jun Aoyama, especialista em segurança do Departamento de Correção do Ministério da Justiça. Apesar das reclamações, quem vêm do exterior, recebem um tratamento ainda melhor que os japoneses. Além do quarto individual, ganham cama e um aparelho de televisão onde passam aulas de japonês. A comida também é diferenciada. Não é servido nada que desagrade religiosamente qualquer crença de um povo. Para os arianos, por exemplo, não é oferecida carne bovina. Um consolo para os estrangeiros que não podem nem pensar em cumprir pena no seu país. O Japão é a única nação do mundo que não aceita acordos de extradição. Afinal, como causou sofrimento à população do arquipélago, o criminoso tem que pagar por isso no Japão mesmo. Assim conhecido o caso japonês, é interessante ver que nenhuma ou quase nenhuma “Ong” de direitos humanos interfere no sistema, dita políticas ou o governo permite que Senador durma entre os presos, sob a justificativa de impedir represálias do Estado após rebeliões. Aliás como se diria “rebelião de preso” em japonês? – Esta expressão não existe.

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