Osman Lins – Prosa na tarde – 12/03/2013
Palavra viva Osman Lins¹ “A lenta rotação da água, em torno de sua vária natureza. Sua oscilação entre a paz dos copos e as inundações. Talvez seja mineral; ou um ser mitológico; ou uma planta, um liame, enredando continentes, ilhas. Pode ser um bicho, peixe imenso, que tragou escuridões e abismos, com todas as conchas, anêmonas, delfins, baleias e tesouros naufragados. Desejaria ter, talvez, a definição das pedras; e nunca se define. Invisível. Visível. Trespassável. Dura. Amiga. Existem os ciclones, as trombas marinhas. Golpes de barbatanas? E também as nuvens, frutos que, maduros, tombam em chuvas. O peixe as absorve e cresce. Então este peixe, verde e ramal, de prata e sal, dele próprio se nutre? Bebe a sua própria sede? Come sua fome? Nada em si mesmo? Não saberemos jamais sobre este ente fugidio, lustral, obscuro, claro e avassalador. Tenho-o nos meus olhos, dentro das pupilas. Não sei portanto se o vejo; se é ele que se vê.” Do conto Retábulo de Santa Joana Carolina, uma das narrativas do livro Nove Novena. ¹Osman da Costa Lins * Vitória de Santo Antão, PE. – 5 de Julho de 1924 d.C + São Paulo, SP. – 8 de Julho de 1978 d.C >> Biografia de Osman Lins [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]