Otacilio Colares – Versos na tarde – 21/01/2013
A estranha lavra Otacilio Colares ¹ Lavraram acordos, Não lavraram a paz. E onde antes lavrara o amor, E os hábitos próprios e as tradições, Lavram ainda a alheia cizânia, o alheio ódio. Lavraram acordos, Não lavraram a paz. As mãos que lavraram firmas em pergaminho Não irão lavrar os campos doloridos, Ainda plenos da imagem dos mortos. Lavraram acordos Não lavraram a paz. Onde antes lavraram os arados Lavram fome, desespero e pranto, Regando faces – campos de incertezas. Lavraram acordos, Não lavraram a paz. O que lavra ainda em tudo é o grande medo, E a desesperança, e o desencanto Na face pálida dos que restaram vivos. Lavraram acordos, Não lavraram a paz, Que atrás dos risos dos embaixadores O fundo é o fumo avassalante dos incêndios E choro vago das crianças sem amanhã. Fortaleza, 1973 ¹ Otacílio Colares * Fortaleza, CE. – 1918 d.C + Fortaleza, CE. – 1988 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]