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Carlos Drummond de Andrade – Versos na tarde

Amar Carlos Drummond de Andrade ¹ Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar? sempre, e até de olhos vidrados, amar? Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar? amar o que o mar traz à praia, e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia? Amar solenemente as palmas do deserto, o que é entrega ou adoração expectante, e amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina. Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita. ¹ Carlos Drummond de Andrade * Itabira do Mato Dentro, MG, – 31 de Outubro de 1902 d.C + Rio de Janeiro RJ, – 17 de Agosto de 1987 d.C -> biografia [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Tálio: mineral estratégico tem reserva gigante no Brasil

Mais raro que o estanho, o tálio entra na composição de substâncias de importante aplicação de células fotoelétricas, detectores de raios infravermelhos e na manufatura de vidros especiais, que apresentam baixo ponto de fusão e alto índice de refração. Descoberto, em 1861, por Sir William Crookes, que examinava ao espectroscópio a poeira oriunda da calcinação de piritas seleníferas, o tálio foi isolado na forma metálica um ano depois pelo próprio Crookes e por Claude Auguste Lamy, que trabalhava independentemente. O Editor Ninguém fala sobre a descoberta no Brasil de uma grande reserva de tálio, mineral altamente estratégico. Precisamos discutir mais a questão dos minérios. O Departamento Nacional da Produção Mineral divulgou, em fevereiro deste ano, a descoberta da primeira jazida brasileira de tálio, um metal extremamente estratégico e de alto valor, hoje produzido somente na China e no Cazaquistão. E a China já divulgou que imporá barreiras a sua exportação! De tão raro, nem era procurado no Brasil. Foi divulgado que o objetivo da empreitada, inicialmente era, tão somente, a exploração de calcário. E a descoberta foi feita pela empresa do ex-rei da soja, Olacyr de Morais que, nos seus 80 anos de idade, aceitou um novo desafio: a mineração. A jazida está localizada no território baiano do município de Barreiras e constitui a única ocorrência mundial em que o tálio está associado ao manganês e ao cobalto, em ambiente continental, e que é considerado o elemento de principal interesse econômico.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Para se ter uma idéia da jazida, apenas uma das 24 áreas pesquisadas pela empresa seria suficiente para abastecer todo o consumo mundial, hoje estimado em 10 toneladas anuais, pelo período de seis anos. O tálio é um metal aplicado em soluções de alta tecnologia, de utilização estratégica nas áreas de saúde e energia, por exemplo. é usado como contraste em exames cardiológicos por imagem, como elemento supercondutor na transmissão de energia e como material termoelétrico, já que tem capacidade de transformar calor desperdiçado em eletricidade aproveitável. Foi divulgado, ainda, que a reserva do minério é superior a 60 milhões de gramas, apenas na primeira área onde a pesquisa foi concluída, equivalente a menos de 2% da área total de pesquisas do projeto. O metal é comercializado e cotado em grama e o preço varia próximo dos US$ 6 o grama, o que equivale a mais ou menos R$ 10 reais. Não é preciso nem falar das dificuldades criadas pelo IBAMA… Francisco Vieira/Tribuna da Imprensa

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Contra o que todo mundo protesta?

Na primeira fila da passeata, o presidente da Fiesp, embrulhado numa bandeira brasileira, e sindicalistas de todos os matizes. Cena inimaginável há alguns anos. Mais surpreendente ainda é tantas manifestações estarem ocorrendo em tantas cidades do mundo, ao mesmo tempo: Nova York e mais dezenas de cidades americanas, Roma, Berlim, Atenas. E se procurarmos um pouco mais, encontraremos algumas dezenas de cidades menores. Cada uma protesta contra ou reivindica coisas diferentes. No Chile são os custos do ensino, no Brasil é a corrupção, nos EUA, os bancos, na Europa, os governos. Analistas tentam encontrar alguma unidade nos movimentos mundo afora. Pelas primeiras impressões, o traço de união são as redes sociais. Mas essa é só parte da verdade. Os protestos não estão ocorrendo por causa das redes sociais, apenas sua simultaneidade pode ser-lhes atribuída. As redes são só o instrumento que torna possível que tanta gente, em tantos lugares diferentes e distantes, se manifeste ao mesmo tempo. [ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]Estamos tendo um 1968 ou o equivalente da queda da Bolsa de Nova York em 1929, só que em tempo real. Em 1968 os protestos se espalharam pelo mundo, mas a velocidade das notícias era muito menor. Na quebra da bolsa em 1929 não só as notícias circulavam mais lentamente, como a própria compreensão das causas do fenômeno demorava muito mais a ocorrer. Agora, apesar das mudanças, da rapidez das comunicações, o fator comum a todas as manifestações é que todos viram a largura das escadas da ascensão socioeconômica estreitar-se subitamente, em todos os países. O mundo era feliz e risonho e não sabia. Todos seguindo o ritmo normal da vida: todos iríamos melhorar de vida. Teríamos todos mais acesso ao consumo – a grande medida de felicidade do mundo contemporâneo – e os nossos filhos estariam melhor do que nós, como, em boa medida, as gerações de hoje estão muito melhor do que as que nos antecederam. Tudo eram favas contadas. A humanidade tem boa memória para o bom. Memória tão boa que todas essas coisas viraram, por assim dizer, “naturais”. Não podia ser diferente. Há 150 anos, mais de 90% da população do mundo jamais viajou além de um raio de 10 ou 20 quilômetros do lugar onde nascera. Um jovem e uma jovem judeus se encontraram no Brasil na década de 1930. Haviam nascido em cidades alemãs que distavam menos de 50 quilômetros uma da outra e não conseguiam se entender em suas línguas nativas. Eles salvaram o seu romance no iídiche, a língua dos judeus alemães ashkenazi, que lhes permitiu se comunicarem, namorarem e virem a se casar. Quase tudo mudou. Mas quem se comunica pelo alfabeto latino vê na televisão e só tem uma ideia vaga do que dizem os cartazes dos protestos na Grécia, escritos em seu próprio alfabeto, graças à explicação dos apresentadores. A tradução ainda é necessária para saber contra o que os gregos se manifestam. Hoje essas coisas ocorrem no mundo inteiro ao mesmo tempo. Na China, mesmo com o regime fechado, já começam a pipocar as perspectivas de estreitamento da mobilidade social – e lá são quase três Brasis para entrar na sociedade de consumo. O temor da democratização é tal que o governo chinês proibiu um programa de calouros na televisão porque os telespectadores podiam “votar” em quem consideravam os melhores. O governo entrou em pânico, com receio de que isso viesse a dar ideias aos chineses de que voto era uma coisa boa e poderia ser repetido em outras esferas, inclusive na política. O caso foi contado na revista inglesa The Economist. Todos os protestos, díspares, sem nenhuma conexão aparente a não ser a existência de ferramentas eletrônicas que tornam possível a comunicação instantânea, tinham somente um eixo comum: a chance de cada um de melhorar de vida está sensivelmente diminuída em razão dos arranjos que “alguéns” fizeram na economia. Não importa se são os bancos, os governos, as autoridades educacionais, os Parlamentos ou o que seja. Criada para ser uma rede militar de comunicações descentralizada, de modo que nenhum inimigo pudesse imobilizá-la, a internet expandiu-se para onde os criadores jamais imaginaram. Temos internet para tudo e programas governamentais para torná-la acessível a todas as populações são tão rotineiros e prioritários quanto as políticas de vacinação o foram para acabar com epidemias. Ninguém previa, entretanto, que ela viria a ser o traço de união de tantos descontentamentos díspares em línguas diferentes, espalhados pelo mundo. Pelo visto, não há nada a fazer. No primeiro semestre deste ano, as potências ocidentais foram rápidas ao batizar, simpaticamente, os protestos no Norte da África e no Oriente Médio de “primavera árabe”, uma expressão gentil e esperançosa. Mas isso foi rapidamente convertido, na Inglaterra, numa mera coordenação de baderneiros perigosos. Quando chegamos ao outono (do Hemisfério Norte), que está presenciando simultaneamente todos esses protestos, ainda não existe nome, nem simpático nem antipático. O Fundo Monetário Internacional (FMI) corre para dizer que fica o dito pelo não dito e as políticas de austeridade, com as quais tanto se incomodaram os países da América Latina nos anos 80 e 90 do século passado, não valem mais. O que era chamado de imprimir dinheiro para fazer inflação virou respeitavelmente QE (quantitative easing, política de expansão monetária), que nada mais é do que imprimir dinheiro do nada. No fim das contas, é apenas mais do mesmo, só que agora não mais maldito. Por quanto tempo os governos poderão dormir sossegados com um barulho destes, levando em conta que só houve algumas coisas básicas que não mudaram: a economia continua a ser a ciência da escassez e os desejos humanos seguem ilimitados? ¹ Alexandre Barros, cientista político (PH.D., University of Chicago), é sócio da Early Warning Consultoria (Brasília) – O Estado de S.Paulo

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