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Mário Cesariny – Versos na tarde

Faz-me o favor… Mário Cesariny ¹ Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada! Supor o que dirá Tua boca velada É ouvir-te já. É ouvir-te melhor Do que o dirias. O que és nao vem à flor Das caras e dos dias. Tu és melhor — muito melhor!– Do que tu. Não digas nada. Sê Alma do corpo nu Que do espelho se vê. ¹ Mário Cesariny de Vasconcelos * Lisboa, Portugal – 9 de Agosto de 1923 d.C + Lisboa, Portugal – 26 de Novembro de 2006 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Os milhões de poetas do Twitter

Já houve o tempo em que se acreditou que a linguagem seria capaz de formatar o modo de se pensar. Segundo esse raciocínio torto, indivíduos alfabetizados em alemão teriam, por causa de sua gramática modular e complexa, uma capacidade maior para a administração de conceitos simbólicos. Na mesma linha de pensamento, a simplicidade do japonês ajudaria o trabalho em equipe e a compreensão do futuro, os tempos verbais chineses explicariam sua relação com a eternidade e os pronomes neutros do inglês tornariam aqueles que o tem como língua-mãe mais abertos à idéia de igualdade de gêneros. Para provar essa hipótese descabida, sempre surgia como exemplo uma língua obscura que invertia a ordem do tempo, falada por alguma tribo muito desconhecida ou extinta, vivendo em algum lugar remoto demais para ser digno de nota. É curioso ver que uma teoria dessas tenha sido levada a sério, se ela não passa em um simples teste de lógica: quem conhece alguém que tenha se tornado mais analítico, gregário ou tolerante simplesmente por falar outra língua? Ou que perca sua noção de tempo e espaço ao visitar lugares que praticam outras conjugações? Seria a saudade um sentimento restrito a quem fala a nossa língua? É difícil crer que a linguagem seja capaz de restringir pensamentos. É bem mais fácil, no entanto, imaginá-la como instrumento de exercício mental. A compreensão e expressão de conceitos em outra língua força o indivíduo a repensar sua ordem, contexto e estrutura, em um processo que, se for contínuo e frequente, pode levar a uma revisão de idéias ou, no mínimo, em sua reorganização. A língua não precisa ser estrangeira. Jargão e gíria, por exemplo, têm a vantagem de serem extremamente sintéticos. Quem os domina consegue expressar situações extremamente complexas com pouquíssimas palavras. O mesmo pode ser dito de um bom palavrão. O Twitter não criou outra língua, por mais que tenha incorporado alguns termos técnicos ao já florido linguajar nerd. Mas o exercício de sintetizar, de fazer caber tanta coisa que se tem para falar em tão pouco espaço, é extremamente rico. Hoje, quando a infinidade de informação demanda uma seleção cada vez maior do que se deve ler (e que a velocidade da mudança relega praticamente tudo que for armazenado ao esquecimento), é cada vez mais importante dizer muito com poucas letras. 140 para quem tiver a intenção de ser lido, menos ainda para quem pretende ser retransmitido. A formatação do pensamento por linguagem sempre foi uma desculpa esfarrapada para justificar preconceitos e ideologias. Hoje sobram especialistas a crucificar o digital do mesmo jeito que um dia já se acreditou que os livros isolariam as pessoas. O Twitter e seus equivalentes não restringem a linguagem nem o raciocínio. Em muitos casos, o que acontece é exatamente o contrário: ao forçar uma ideia à camisa de força de poucos caracteres, milhões de pessoas praticam a cada segundo uma versão simplificada de jogos de palavras que levam a aforismos, poemas e Hai-Kais, mesmo que não percebam. Isso pelo menos para aqueles que se exprimam em versões do alfabeto latino. Para quem fala chinês, japonês ou matemática, em 140 caracteres cabe o mundo inteiro. E ainda sobra espaço para retuitar e ser retuitado. Luli Radfahrer é Ph.D. em Comunicação Digital pela ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP, onde é professor há 18 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, Estados Unidos, Europa e Oriente Médio. Mantém um blog com seu nome www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve quinzenalmente no caderno Tec da Folha e na Folha.com.

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Corrupção custou ao Brasil o equivalente ao PIB da Bolívia

A corrupção endêmica que grassa na taba dos Tupiniquins, causa reflexos em diversos setores do Estado. A ONG Transparência Internacional, que realiza pesquisa anual em 178 países, revela que o Brasil permaneceu com a mesma pontuação do grau de corrupção medido no ano passado. A CGU, Controladoria Geral da União, informa em seu site que fraudes e irregularidade sem licitações atingem cerca de 95% dos municípios fiscalizados. Isso mesmo: 95% Tem pontuação de 3.7, a escala de valoração vai de 0 a 10, colocando a pátria varonil no mesmo patamar, vejam só, de Cuba, Montenegro e Romênia, ficando abaixo de países como Itália, África do Sul,Uruguai e Costa Rica. O Editor Pelo menos o valor equivalente à economia da Bolívia foi desviado dos cofres do governo federal em sete anos, de 2002 a 2008. Cálculo feito a partir de informações de órgãos públicos de controle mostra que R$ 40 bilhões foram perdidos com a corrupção no período -média de R$ 6 bilhões por ano, dinheiro que deixou de ser aplicado na provisão de serviços públicos. Com esse volume de recursos seria possível elevar em 23% o número de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família -hoje quase 13 milhões. Ou ainda reduzir à metade o número de casas sem saneamento -no total, cerca de 25 milhões de moradias. O montante apurado faz com que escândalos políticos de grande repercussão pareçam pequenos. Na Operação Voucher, que no mês passado derrubou parte da cúpula do Ministério do Turismo, por exemplo, a Polícia Federal estimou o prejuízo em R$ 3 milhões.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Apesar de elevada, a quantia perdida anualmente está subestimada, pois não considera desvios em Estados e municípios, que possuem orçamentos próprios. A estimativa, feita pelo economista da Fundação Getulio Vargas Marcos Fernandes da Silva, contabiliza apenas os desvios com recursos federais, incluindo os recursos repassados às unidades da federação. Durante seis meses, o economista reuniu dados de investigações de CGU (Controladoria-Geral da União), Polícia Federal e TCU (Tribunal de Contas da União). São resultados de inspeções em gastos e repasses federais para manter serviços de saúde, educação e segurança pública, por exemplo. Os dados servem de base para inquéritos policiais e ações penais, além da cobrança judicial do dinheiro público desviado. Para o autor, esses desvios têm custo social e econômico. “Privar as pessoas de saúde é privá-las de crescer, de aprender, de competir com igualdade. Para o Brasil, isso é perda de produtividade.” Mariana Carneiro/Folha de S. Paulo

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