Cavalo de troia ‘Olyx’ foi encontrado junto com vírus de Windows. Praga teria sido criada na China para capturar dados de ativistas. O Editor Vírus para Mac pode ser o primeiro ligado à operação de espionagem. Um vírus para Mac OS X encontrado no final de junho pela Dr. Web está atraindo a atenção de especialistas depois uma análise da Microsoft na semana passada, indicando que o vírus pode ter uma “missão”, ou seja, estar ligado aos ataques de espionagem. A praga foi batizada de Olyx. O pacote em que ela foi encontrada promete ser uma página da Wikipedia sobre as manifestações ocorridas na cidade chinesa de Ürümqi, capital da província de Xinjiang, em 2009. O conteúdo chegou a ser proibido na China, o que indica que maiores alvos do ataque seriam pessoas tentando burlar a censura da internet no país.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] A coluna responde perguntas deixadas por leitores todas as quartas-feiras. Localização de Ürümqi, na China (Foto: CC/BY-SA) As manifestações em Ürümqi envolveram atritos entre dois grupos étnicos na China. Quando a violência teve início, o governo cortou comunicações com o local e a maior parte das informações veio de fontes oficiais. O incidente teria deixado quase 200 mortos e mais de 1,5 mil feridos. Os números exatos variam dependendo da fonte. As motivações do ataque não seriam diferentes da Operação Aurora – um ataque também ligado à China – que nega as acusações – e que teria roubado dados do Google. Os principais alvos da Aurora seriam ativistas políticos usuários do Gmail. A existência da operação Aurora foi divulgada no início de 2010, mas, em junho de 2011, o Google voltou a comentar sobre ataques a usuários do Gmail, mais uma vez ligando a China ao ocorrido e com ativistas políticos entre os alvos. Brasil estava entre os países atacados pela rede de espionagem GhostNet (Foto: Reprodução/IWM) GhostNet O pacote malicioso encontrado em junho, que prometia fotos e informações sobre Ürümqi, tinha duas pragas digitais – uma para Windows e outra para Mac. A praga para Windows tem duas características curiosas. A primeira é que ela está assinada digitalmente – fato que aponta para uma sofisticação no ataque. A segunda é seu comportamento: o código é muito semelhante ao que foi usado em outra operação de espionagem, a GhostNet. A GhostNet é a mais extensa operação de espionagem digital já documentada. Ela teria infectado mais de 1,2 mil computadores em 103 países. O serviço de controle dessa rede era baseado na China, segundo os especialistas que desvendaram seu funcionamento. Segundo eles, os alvos eram ministros das Relações Exteriores, de embaixadas e de pessoas ligadas ao Dalai Lama, líder espiritual do Tibete. Não existe nenhuma evidência de que o governo chinês estaria envolvido com qualquer um desses ataques e ainda não há maneira de explicar por que uma praga semelhante à da GhostNet estaria sendo distribuída junto com um pacote que promete conteúdo sensível na China. Ataques ao Google teriam como alvo dissidentes políticos na China (Foto: Jason Lee/Reuters) Outras operações chinesas A operação de espionagem Dragão Noturno teve como alvo companhias de energia, principalmente as de petróleo. Segundo a fabricante de antivírus McAfee, os horários de maior atividade da rede eram os mesmos do horário comercial chinês – uma indicativa de que essa operação também seria de origem chinesa. O cavalo de troia do Windows disseminado junto com o do Mac também tinha semelhanças com o código do Dragão Noturno. Outra operação supostamente chinesa foi a Titan Rain, que teria começado em 2003 e atacado o governo dos EUA e várias empresas que prestam serviços e fabricam armas para o exército, além da NASA. Ameaças avançadas Independentemente da origem dos ataques, os códigos e métodos envolvidos constituem as ameaças avançadas persistentes (APTs). Ao contrário da maioria das pragas, o objetivo de uma APT não é se disseminar para toda a internet e sim atingir alvos específicos. Normalmente isso é feito com e-mails enviados diretamente – e somente – para os alvos. É por isso que o pacote com o vírus para Mac e Windoss aponta para uma possível ligação para esse tipo de ataque: uma isca incomum, mas que chegará às mãos de pessoas com um interesse específico. Como os vírus são feitos especificamente para seus alvos, a detecção da praga por antivírus costuma ser baixa. Segundo Costin Raiu, especialista em vírus da Kaspersky, Macs não são mais seguros do que Windows quando o assunto são ataques direcionados. O aparecimento do primeiro ataque direcionado para Mac serviria como uma prova do que disse o especialista, mas ainda há muitas informações pouco claras sobre o vírus Olyx e, caso ele seja mesmo uma ameaça desse tipo, o maior erro seria ignorá-lo. Altieres Rohr/ G1* *Altieres Rohr é especialista em segurança de computadores e, nesta coluna, vai responder dúvidas, explicar conceitos e dar dicas e esclarecimentos sobre antivírus, firewalls, crimes virtuais, proteção de dados e outros. Ele criou e edita o Linha Defensiva, site e fórum de segurança que oferece um serviço gratuito de remoção de pragas digitais, entre outras atividades. Na coluna “Segurança digital”, o especialista também vai tirar dúvidas deixadas pelos leitores na seção de comentários.