Os ladrões – penso eu – não ostentam porque roubam, mas roubam para ostentar. Este o seu propósito não muito oculto, o seu impulso no fundo da questão. Assumindo abertamente tal comportamento, além de traírem a confiança de quem os nomeou – no caso dos Transportes, a presidente Dilma Rousseff – ainda por cima desgastam politicamente o governo e, simultaneamente a imagem do PT. Por isso, acho que o ex presidente Lula não tem razão quando se preocupa em que as demissões praticadas por Rousseff no DNIT possam isolá-la da base parlamentar no Congresso. Escrevo a partir da reportagem da Càtia Seabra e Natuza Nery, Folha de São Paulo de quarta-feira. Sinto sempre a obrigação, não muito levada a sério, de citar a fonte da informação que se transforma em degrau para análise. Pensar que o ladrão, e também traidor, é um amigo ou aliado é uma ingenuidade ou uma estupidez completa. O ladrão, ao contrário, é o pior e o maior inimigo. Principalmente porque expõe o outro, a uma grave e aparente contradição. Ou sabia do roubo e assim é conivente ou leniente, ou é um desinformado . Como a presidente Dilma não é nem uma coisa nem outra, sua única saída é demitir os culpados. No mínimo. Pois se infringiram a lei devem ir para a cadeia, se condenados. Mas a cadeia para os colarinhos branco não constitui uma peça da cultura brasileira. Os ladrões ficam à solta, porém não se pode dizer que seus atos não tenham consequência. Há muitos exemplos e reflexos, como lembrou Dora Kramer em O Estado de São Paulo da mesma quarta-feira.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] No incrível DNIT outras demissões estão anunciadas. Como Luis Inácio da Silva pode temer fraturamento ou fracionamento da base parlamentar aliada? Não faz sentido. A roubalheira pela própria roubalheira já constitui uma cisão. Claro. Pois não pode ser esse o projeto do governo. Dilma não atribuiu o espaço do Ministério dos Transportes ao PR, partido que foi do vice José Alencar, para que seus representantes agissem como os piratas do século 16 que tinham o Caribe como ponto de encontro e refúgio. Deram margem na literatura até a lendas de raro fascínio. O cinema americano aproveitou-se de várias delas para filmes de aventuras. Mas o cenário da política brasileira é diferente. Dilma Roussef e o PT terão que enfrentar as urnas municipais de 2012, prévia das sucessões estaduais e da sucessão presidencial de 2014. É verdade que não existe oposição federal no país. O DEM desapareceu. O PSDB está dividido entre as correntes de Aécio Neves e José Serra, e Aécio não tem a menor pegada oposicionista. Nem adiantaria. A força popular de Lula não se evapora facilmente, pois com ele, e Dilma, como já escrevi, o desemprego caiu de 12 para 6%, e os salários subiram concretamente na escala de 15%. O PSDB, para confrontar o ex presidente, teria que defender abertura social ainda maior. Atacar só à base da corrupção não resolve. Aécio Neves já sentiu isso. É jovem. Pode esperar. Daqui a dois anos ainda será difícil para ele. Mas a política é como a nuvem. Pode mudar de a forma e direção a qualquer instante. O fato essencial é que não se pode aceitar e conviver com a corrupção e os corruptos sob pena pelo menos de contaminação. Assim não tem cabimento, em nome da maioria na Câmara e no Senado, o governo, qualquer governo, perder a credibilidade e a confiança da opinião pública. Sem opinião pública a favor, não se governa país algum. Muito menos o Brasil. Pedro do Coutto/Tribuna da Imprensa