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Fernando Pessoa – Álvaro de Campos – Versos na tarde

Lisbon Revisitet – 1926 Fernando Pessoa ¹/Álvaro de Campos ² Nada me prende a nada. Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo. Anseio com uma angústia de fome de carne O que não sei que seja – Definidamente pelo indefinido… Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto De quem dorme irrequieto, metade a sonhar. Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias. Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua. Não há na travessa achada o número da porta que me deram. Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido. Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota. Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados. Até a vida só desejada me farta – até essa vida… Compreendo a intervalos desconexos; Escrevo por lapsos de cansaço; E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia. Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme; Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago; ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso. Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma… E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei, Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa (E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas), Nas estradas e atalhos das florestas longínquas Onde supus o meu ser, Fogem desmantelados, últimos restos Da ilusão final, Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido, As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus. Outra vez te revejo, Cidade da minha infância pavorosamente perdida… Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui… Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei, E aqui tornei a voltar, e a voltar. E aqui de novo tornei a voltar? Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram, Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória, Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim? Outra vez te revejo, Com o coração mais longínquo, a alma menos minha. Outra vez te revejo – Lisboa e Tejo e tudo -, Transeunte inútil de ti e de mim, Estrangeiro aqui como em toda a parte, Casual na vida como na alma, Fantasma a errar em salas de recordações, Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem No castelo maldito de ter que viver… Outra vez te revejo, Sombra que passa através das sombras, e brilha Um momento a uma luz fúnebre desconhecida, E entra na noite como um rastro de barco se perde Na água que deixa de se ouvir… Outra vez te revejo, Mas, ai, a mim não me revejo! Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico, E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim – Um bocado de ti e de mim! ¹ Fernando Antonio Nogueira Pessoa * Lisboa, Portugal – 13 de Junho de 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30 de Novembro de 1935 d.C ->> biografia ->> aqui mais Fernando Pessoa no Blog ² Álvaro de Campos nasceu em Tavira, Algarve, Portugal, e depois se mudou para Glasgow, Escócia, onde foi estudar engenharia. Primeiro mecânica, depois naval. “Quase se conclui do que diz Campos, de que, o poeta vulgar sente espontâneamente com a largueza que naturalmente projetaria em versos como os que ele escreve; e depois, refletindo, sujeita essa emoção a cortes e retoques e outras mutilações ou alterações, em obediência a uma regra exterior. Nenhum homem foi alguma vez poeta assim” afirmou Ricardo Reis em um de seus apontamentos. Álvaro de Campos é um dos mais conhecidos heterônimos de Fernando Pessoa. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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A vida como não deveria ser

Brasil – da série: “A vida como não deveria ser!” Vamos gastar milhões pro futebol. A culpa, é de todos. Governo e eleitores. Minha e sua! Foto via Twitter de @abroba PS. O (Des) Governo Federal vai gastar R$ 32 Milhões de Reais em campanha publicitária para divulgar o surrealista programa “Brasil sem miséria”. Seja lá o que isso for. O Editor

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Apple confirma ‘iCloud’, na nuvem, e novas funções para iPhone e iPad

Com participação de Steve Jobs, WWDC verá ainda chegada do OS X Lion. Empresa vai revelar detalhes de produto para ‘nuvem’ na próxima semana. A Apple confirmou nesta terça-feira que vai mostrar, na próxima segunda-feira (6), a nova versão do sistema operacional iOS, utilizado no iPad, no iPhone e no iPod Touch. A empresa revelou ainda que vai lançar, no evento de abertura da Worldwide Developers Conference, em San Francisco, o iCloud. Trata-se de uma nova base de serviços hospedada em servidores da internet, ou “na nuvem”, no jargão atual da tecnologia de informação. Os detalhes sobre as funções e o custo do serviço devem ser anunciados apenas na próxima semana. Especula-se, no entanto, que o iCloud permitirá o armazenamento de arquivos de música na rede, que poderão ser acessadas de qualquer lugar. A Amazon já oferece serviço semelhante para donos de aparelhos com sistema operacional Android, e o Google começou recentemente a testar sua versão do produto. Em texto divulgado nesta terça, a empresa confirmou ainda que o evento, que reúne anualmente desenvolvedores de aplicativos para as plataformas da Apple, será aberto pelo presidente afastado da empresa, Steve Jobs. A WWDC marcará ainda a apresentação do novo sistema operacional para computadores da linha Mac, o OS X Lion. A atualização do sistema atual, o Snow Leopard, havia sido anunciada em outubro de 2010. G1 [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Juiz ataca lei que reduz prisão preventiva

Fábio Uchoa, titular do 1º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, ataca nova lei que reduz prisão preventiva. Com a autoridade de quem já bateu o martelo diante de Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, principal acusado da morte do jornalista Tim Lopes, e dos irmãos Natalino e Jerônimo Guimarães, chefes da milícia “Liga da Justiça”, o juiz Fábio Uchoa, titular do 1º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, abandona a habitual reserva para fazer um alerta. Para ele, a Lei 12.403/2001, que entra em vigor no dia 5 de julho e cria novas medidas para reduzir os casos de prisão preventiva, será um estímulo à impunidade, pois vai tirar do juiz o poder de manter na cela aqueles que deveriam ser apartados do convívio social. Sancionada pela presidente Dilma Rousseff no início do mês, a lei altera 32 artigos do Código de Processo Penal (Decreto-Lei 3.689, de 3 de outubro de 1941). Por isso, fez parte do pacote de nove projetos de minirreforma do código. Um dos trechos mais polêmicos é o artigo 313, que passa a só admitir a decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a quatro anos. Agora, nos casos de crimes de formação de quadrilha, porte ou disparo de arma de fogo, furto simples, receptação, apropriação indébita, cárcere privado, corrupção de menores, coação de testemunhas no curso do processo, falso testemunho e vários outros crimes punidos com até quatro anos de prisão, ninguém permanecerá preso – só se for reincidente. – Se a superlotação das cadeias não está sendo controlada, não podemos resolver o problema abrindo a porta das celas e botando os marginais nas ruas. A crise carcerária é uma questão de política pública. Não é para ser resolvida pelo legislador processual – lamentou Uchoa. Não podemos resolver o problema de superlotação abrindo a porta das celas e botando os marginais nas ruas O juiz disse que a crítica não parte do titular do 1º Tribunal do Júri, espécie de para-raios de alguns dos mais graves casos de violência carioca, mas de um “cidadão preocupado”. Ele explicou que só resolveu se manifestar agora porque, até então, desconhecia a existência do projeto. Motivada pelo princípio da presunção da inocência, a lei inova ao acrescentar, entre o conjunto de medidas cautelares alternativas à prisão, a extensão da fiança para crimes punidos com até quatro anos de prisão – situação que não era permitida desde 1940 pelo Código de Processo Penal. Em todos esses casos, o delegado poderá agora arbitrar fiança diretamente, sem análise do promotor e do juiz Chico Otavio/O Globo [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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