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Fernando Pessoa – Versos na tarde

Meu coração tardou Fernando Pessoa ¹ Meu coração tardou. Meu coração Talvez se houvesse amor nunca tardasse; Mas, visto que, se o houve, houve em vão, Tanto faz que o amor houvesse ou não. Tardou. Antes, de inútil, acabasse. Meu coração postiço e contrafeito Finge-se meu. Se o amor o houvesse tido, Talvez, num rasgo natural de eleito, Seu próprio ser do nada houvesse feito, E a sua própria essência conseguido. Mas não. Nunca nem eu nem coração Fomos mais que um vestígio de passagem Entre um anseio vão e um sonho vão. Parceiros em prestidigitação, Caímos ambos pelo alçapão. Foi esta a nossa vida e a nossa viagem. ¹ Fernando Antonio Nogueira Pessoa * Lisboa, Portugal – 13 de Junho de 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30 de Novembro de 1935 d.C ->> biografia [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Internet e anonimato

Temor com anonimato na Internet supera preocupação com a censura Ao longo de toda a história universal não se registra um só caso, através dos milênios, em que uma obra de arte, um tratado científico ou documento político que numa época tenha sofrido censura ou interdição, e que, depois não tenha sido veiculado livremente sem censura de espécie alguma. A censura, portanto, está sempre na contramão da existência, freiando a evolução da cultura e assim a da própria espécie humana. Ela, no fundo, apenas retarda o processo de percepção e se transforma sempre num obstáculo ultrapassado degrau por degrau. No Brasil, a ditadura militar que se instalou em 64 e acabou, parcialmente em 79, e depois totalmente em 85 com a eleição de Tancredo Neves e a posse de José Sarney, fornece uma série interminável de exemplos ridículos. “O Último Tango Em Paris”, um deles, hoje exibido nas sessões da tarde das tevês. Outro, o livro “O Casamento”, de Nelson Rodrigues. Mais um, a novela “Roque Santeiro”. Mas há centenas de outros, a exibição do Ballet Bolshoi, pela Rede Globo, composições de Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Tom Jobim.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Assistindo a palestra dos jornalistas e escritores Carlos Heitor Cony, meu velho amigo do Correio da Manhã, e de Artur Xexéo, sábado passado, no espaço cultural de Furnas, aberto ao tema da arte, eu pretendia colocar esta questão-símbolo, incluindo os episódios judiciais que envolveram os escritores Émile Zola (caso Dreyfuss), Gustave Flaubert (‘Madame Bovary”) e D. H. Lawrence, “O Amante de Lady Chatterley”, mas perdi a oportunidade de ouvi-los sobre a censura que, no passado, desabou sobre tais obras altamente importantes. Perdi a oportunidade de focalizar o assunto, que daria margem às colocações e palavras inteligentes de Cony e Xexéo, porque o espaço terminou sendo absorvido pelo temor ao anonimato que está transbordando na Internet, nos sites, nos blogs, twitters, enfim nas telas mágicas dos computadores. A platéia que ocupava o auditório de Furnas, aberta a participação, revelou-se intensamente preocupada com o fenômeno para o qual, na verdade, não há nem censura, tampouco limites. Porém tal temor não era manifestado somente pelo público, mas igualmente pelos dois artistas. Referiram-se ao que classificaram como lixo cibernético, perigoso e contaminador. Não são manifestações de arte, ou opiniões independentes sobre as questões de hoje. Em número acentuadamente alto representam absurdos, agressões seguidas, sintomas de desequilíbrio emocional, além de aberrações, ofensas e até perversões. São comuns no espaço livre porque seus autores usam facilmente o anonimato e, sentindo-se isolados como se viajassem além da realidade numa espécie de nave espacial fora de lei da gravidade responsável, consideram-se imunes à lógica. Combater qualquer tipo de censura à arte, à ciência, à política, é simples. Basta citar os artigos 5, 220 e 222 da Constituição Federal. Impedem taxativamente qualquer tipo de censura ou restrição à livre manifestação do pensamento. É o que afirma, por exemplo, item 4 do artigo 5º. Mas o mesmo dispositivo veda o anonimato e assegura o direito de resposta. O parágrafo 3º do artigo 222 estende exatamente o mesmo princípio à comunicação eletrônica. Mas como exercer concretamente tal direito? Como fixar a responsabilidade se as sombras protegem os autores das agressões à inteligência, à moral e à ética? O terrível episódio dos assassinatos múltiplos e covardes da escola de Realengo serve de emblema. Basta conferir o que está nos sites e blogs. Preocupou intensamente Cony e Xexéo. Expressaram isso em Furnas. Preocupa a todos nós. Não se trata de censurar. Mas o de colocar pelo menos o fim ao anonimato, aliás como a própria Constituição determina. Cada um diz o que quer. Mas fica responsável pelo que afirmar. Estritamente dentro da lei e da liberdade. E também da responsabilidade. Pedro de Couto/Tribuna da Imprensa

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Qual a consequência da apologia às drogas?

Artigo do deputado Daniel Messac (PSDB) publicado no jornal Diário da Manhã. As pessoas que exercem influência na sociedade, os chamados formadores de opinião e aqueles que têm algum tipo de exposição pública, por sua representatividade ou profissão devem ter um elevado grau de responsabilidade em suas declarações e comportamentos. É extremamente prejudicial, especialmente à formação das crianças e dos adolescentes, a exibição pela mídia de entrevistas, declarações, filmes, novelas, músicas ou comerciais, difundindo a droga como algo positivo, charmoso e até inofensivo. Isso acaba reforçando a posição do dependente químico e estimulando pessoas que, de outra forma, não teriam disposição para experimentar um entorpecente. E quando um ministro de Estado aparece fazendo apologia ao consumo de drogas? Embora as condutas referentes aos usuários de drogas, bem como àqueles que se dedicam ao tráfico ilícito estejam expressamente tipificadas como crime, como prescreve a Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2.006, há pessoas influentes na sociedade que defendem, por exemplo, o uso da maconha. Como explicar, racionalmente, alguém defender aquilo que causa tantos malefícios à juventude e que é porta aberta para a disseminação do uso de outras drogas de maior gravidade, como a cocaína e o crack? Vale esclarecer a propósito que, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, a Lei de Tóxicos não implicou na extinção do delito de posse de drogas para consumo pessoal, como muitos imaginam.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Essa conduta continua sendo crime sob a égide da lei. O que ocorreu foi uma despenalização, ou seja, a exclusão de penas privativas de liberdade como sanção principal. Os usuários e dependentes não estão mais sujeitos à prisão, mas a lei permite que eles cumpram penas alternativas, como prestação de serviços à comunidade, conforme definição dos juizados especiais. O texto legal separa o usuário do traficante e estabelece que ele terá atendimento na rede pública de saúde. A realidade, porém, ainda é bem diferente. Essa lei está em vigor há mais de 3 anos e até hoje não temos programas específicos, com garantia de tratamento digno e individualizado por parte do serviço de saúde pública. A intenção do legislador seria de ampliar esses serviços, mas, falta estrutura e disponibilidade de pessoal qualificado. Resultado: dependentes de baixo poder aquisitivo sem assistência e as famílias não sabem a quem recorrer. As pessoas que exercem função pública devem estar muito atentas ao problema da apologia ao consumo de drogas. A Lei 11.343/06 estabelece pena de um a três anos de prisão para quem: induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga. Já o Código Penal, prevê detenção de três a seis meses para quem fizer publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime. Não obstante, a história recente registra alguns fatos profundamente lamentáveis. O ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil admitiu, durante uma sessão de entrevistas para o jornal Folha de São Paulo, quando ainda ocupava o cargo que fumou maconha até os 50 anos e defendeu que ela não deveria ser proibida. São declarações que despertam nos jovens interesse em experimentar drogas. O mesmo ministro foi acusado pela ONG Mensagem Subliminar de fazer apologia ao uso da maconha no videoclipe da música Kaya NGan Daya e nas capas do CD e DVD de mesmo título. O péssimo exemplo também foi protagonizado por outro ministro de Estado. Na Marcha da Maconha, realizada em maio passado, em Ipanema, na zona sul do Rio para pedir a legalização da droga, lá estava o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. O mesmo que, durante show realizado pela banda de reggae Tribo de Jah, em Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, fez um discurso em que pediu aos presentes para fecharem os olhos e darem as mãos, celebrando a paz; entoou vivas ao reggae, Bob Marley, Tribo de Jah e Chico Mendes, e defendeu a descriminalização da maconha. Detentores de cargos públicos, formadores de opinião, artistas e profissionais da mídia deveriam se voltar mais à conscientização da população para os perigos que as drogas representam para toda sociedade e exaltar o trabalho dos heróis anônimos, que são os voluntários de entidades assistenciais, voltadas à prevenção e reabilitação de dependentes. Afinal, a questão das drogas está na origem de grande parte dos nossos problemas, como: violência, criminalidade, corrupção, desagregação familiar, acidentes de trabalho e de trânsito. * Daniel Messac é deputado estadual pelo PSDB Extraído de: Assembléia Legislativa do Estado de Goiás

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