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Elisa Lucinda – Versos na tarde

Texto para uma separação Elisa Lucinda ¹ Olhe aqui, olhos de azeviche Vamos acertar as contas porque é no dia de hoje que cê vai embora daqui… Mas antes, por obséquio: Quer me devolver o equilíbrio? Quer me dizer por que cê sumiu? Quer me devolver o sono meu doril? Quer se tocar e botar meu marcapasso pra consertar? Quer me deixar na minha? Quer tirar a mão de dentro da minha calcinha? Olhe aqui, olhos de azeviche: Quer parar de torcer pro meu fim dentro do meu próprio estádio? Quer parar de saxdoer no meu próprio rádio? Vem cá, não vai sair assim… Antes, quer ter a delicadeza de colar meu espelho? Assim: agora fica de joelhos e comece a cuspir todos os meus beijos. Isso. Agora recolhe! Engole a farta coreografia destas línguas Varre com a língua esses anseios Não haverá mais filho pulsações e instintos animais. Hoje eu me suicido ingerindo sete caixas de anticoncepcionais. Trata-se de um despejo Dedetize essa chateação que a gente chamou de desejo. Pronto: última revista Leve também essa bobagem que você chamou de amor à primeira vista. Olhos de azeviche, vem cá: Apague esse gosto de pescoço da minha boca! E leve esses presentes que você me deu: essa cara de pau, essa textura de verniz. Tire também esse sentimento de penetração esse modo com que você me quis esses ensaios de idas e voltas essa esfregação esse Bob Wilson erotizado que a gente chamou de tesão. Pronto. Olhos de azeviche, pode partir! Estou calma. Quero ficar sozinha eu co’a minha alma. Agora pode ir. Gente! Cadê minha alma que estava aqui? ¹ Elisa Lucinda * Vitória, ES. – 2 de Fevereiro de 1958 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Ajuste Fiscal: Pagando a conta

Na verdade o problema é o governo conseguir dobrar os políticos, todos ansiosos por verbas, e fazer o decantado ajuste sair do papel. Até agora nenhum ministério, leia-se ministro, apresentou disposição para aceitar sua (dele) cota de sacrifício. Economistas dizem que ser necessário um mínimo de quatro anos para que os cortes feitos agora comecem a surtir efeitos. Qualquer neófito em macro-economia reconhece que o governo deseja fazer, tem fundamentos para conter a inflação que já anda mostrando as caras. Ninguém quer colocar o guizo no pescoço do gato. O Editor Pagando a conta por Sandro Vaia ¹/blog do Noblat É carnaval e o bloco do ajuste fiscal está na rua. Fantasiado de austero, o governo, que no fundo é o mesmo que no ano passado torrou dinheiro para animar o bloco da campanha eleitoral, finge que vai cortar 50 bilhões para deixar as contas mais redondas, chegar perto da meta de superávit primário e manter a inflação confinada e comportada dentro de sua área de segurança. O governo finge que corta e o mercado finge que acredita, e assim caminha o país, fiel à sua rotina de encenações apaziguadoras que mantém a aparência de paz entre um governo que subtrai anualmente da sociedade algo como 36% de tudo o que ela produz,em forma de impostos, e a sociedade, que em troca de sua forçada abnegação, recebe a contrapartida de serviços públicos de qualidade africana. Dos 50 bilhões a cortar, estão efetivamente garantidos R$ 1,6 bi, que já foram cortados da própria proposta orçamentária. Os outros 36,2 bi e R$ 12,2 bi deverão vir, segundo a mal ajambrada explicação que os ministros da Fazenda e do Planejamento deram numa entrevista coletiva, respectivamente do contingenciamento (palavrão que pode ser traduzido por postergação,ou adiamento, ou mesmo não realização) de despesas não obrigatórias dos ministérios, e da reestimativa de despesas obrigatórias. O contingenciamento atropela inclusive os gastos não obrigatórios com programas sociais (aí entram os 5 bi previstos para a complementação do Programa Minha Casa, Minha Vida, ou seja, 40% das despesas totais previstas pelo programa ) e a reestimativa de despesas obrigatórias pressupõe que um pente fino conseguirá descobrir aí desperdícios ou até mesmo fraudes de mais de 12 bilhões de reais, o que realmente é acreditar demais em prodígios de gestão ou, para ser mais franco, na bondade divina. Enquanto os prodígios de gestão não aparecem, os ministros do governo têm cometido prodígios de retórica para manter a encenação política. Todos eles repetem, num bem ensaiado coro, que “os programas essenciais da pasta não serão afetados”. Ou eles mentem ou o que eles chamam de programas essenciais na verdade contém uma grande dose de supérfluo ou de desperdício. Na quarta-feira,o Estadao noticiou que a ministra do Planejamento Miriam Belchior estava decidida a não honrar 33,9 dos 92 bilhões de despesas a quitar herdas do governo anterior. Ou seja: contratos de 33 bilhões assumidos- a maioria em obras de saneamento,urbanização de favelas, transposição do rio São Francisco e obras para remediar desastres naturais- não seriam cumpridos. O tamanho de um trem bala. Nunca antes na história deste país uma eleição saiu tão cara. ¹ Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez.. E.mail: svaia@uol.com.br

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