A inacreditável eleição do senador José Sarney para mais um mandato, o quarto, na presidência do Senado dessa infelicitada e depauperada república Tupiniquim, é uma demonstração da desfaçatez com que o parlamento brasileiro trata a opinião pública. Ao destinarem 70 votos para a reeleição do cacique oligarca Timbira, – como se posicionarem PSDB e DEM? – , suas (deles) ex-celências enviam um claro recado à tribo: esqueçam qualquer possibilidade de um congresso nacional assentado nos mínimos requisitos de moralidade e seriedade no trato dos interesses nacionais. O PT é diretamente responsável pelo fato, ao praticar a espúria política de estapafúrdias alianças para formar a tal governabilidade, como se a verdadeira aliança não fosse a que deveria ser formada unicamente com a população. Ao dizer que José Sarney “não é uma pessoa comum” talvez o falastrão ex-metalúrgico tenha dado, sem o saber, uma nova conotação aos vocábulos pessoa e comum. O Editor Marca do atraso político (Editorial) O Estado de S. Paulo A tranquila recondução de José Sarney à presidência do Senado Federal, para mais um mandato de dois anos – o quarto -, pode parecer um saudável sintoma da estabilidade política de que o País necessita para evoluir na consolidação das instituições republicanas e do desenvolvimento econômico e social. Na verdade, é uma garantia de tranquilidade para o governo, que continuará dispondo, no comando da Câmara Alta, de um aliado exigente em termos de contrapartidas, mas subservientemente fiel e prestativo. A recondução de Sarney à presidência do Senado é uma marca do atraso político que o Brasil não consegue superar. É o tributo que a Nação é obrigada a pagar, em nome de uma concepção falsificada de governabilidade, ao mais legítimo representante das oligarquias retrógradas que dominam e infelicitam as regiões mais pobres do País. Democracia e oligarquia são incompatíveis entre si. Um oligarca como José Sarney, portanto, é incompatível com a democracia, da qual só lhe interessa o sistema eleitoral que manipula sem constrangimento para se perpetuar no poder. [ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]José Sarney está no poder, quase que ininterruptamente, há mais de meio século. Pelo menos desde o golpe militar de 1964, quando se elegeu governador do Maranhão, com o apoio do presidente Castelo Branco, e depois senador desse Estado por dois mandatos consecutivos. Presidiu a Arena, depois PDS, e em 1985, quando pressentiu a irreversibilidade do processo de redemocratização do País, em troca da candidatura a vice-presidente, coliderou a dissensão que resultou na eleição do oposicionista Tancredo Neves. Com a morte deste, a Presidência da República caiu-lhe no colo. Depois de um mandato que registrou seguidas crises econômicas, o estouro da inflação e uma controvertida moratória, Sarney criou condições para que o País se encantasse com um “caçador de marajás”, na eleição presidencial de 1989. Isso acabou lhe custando um breve período – os dois anos e sete meses de Fernando Collor na Presidência – distante do poder. Mas logo em seguida, já em fins de 1992, com Itamar Franco na Presidência, o senador Sarney estava novamente na situação.