A par da tragédia e da presença solidária e obrigatória de governantes aos locais de tragédias como essa acontecida na região serrana do Rio de Janeiro, fica claro que sem a responsabilização civil, administrativa e penal dos Prefeitos, Governadores e Presidente da República, pela não implementação de políticas definitivas para planos diretores, nada ira mudar. Por outro lado, ano após ano a mídia credita somente ao governo federal a culpa de todas essas tragédias. É preciso esclarecer ao povo que por trás das críticas feitas a Dilma, Cabral, Alckmin, etc., existem estados e municípios, com burocracias mastodônticas. Dona Dilma fez o que se espera de um governante nessas horas difíceis: a manifestação “in locum” de solidariedade às vítimas. Ao contrário de Lula, que evitava ter a imagem associada a qualquer ocorrência trágica, a presidente Dilma em 15 dias já deu mostra de que não é um poste lulista. Lamentavelmente, no texto abaixo, o articulista vê na presença da Presidente nos locais da tragédia, somente um motivo para desfiar picuinhas críticas. No geral, a mídia brasileira, conservadora e comprometida, politiza qualquer tragédia, exercitando um tipo de jornalismo que nada acrescenta, e que passa ao largo da solidariedade. Assim, a chuva em São Paulo é obra de Deus, no Rio é culpa do Lula! Entre outras inúmeras demandas, um pacto ético é urgente para colocar o Brasil no rumo da civilização. O Editor A reação dos governantes às tragédias pode arruinar uma biografia. Assediada por um flagelo no alvorecer de sua gestão, Dilma Rousseff não deu chance ao azar. Menos de 24 horas depois do início da contagem dos corpos da região serrana do Rio, Dilma sobrevoou a área. Sujou os sapatos na lama de uma das cidades castigadas pelas águas. Depois, deu uma entrevista improvisada. Soou inespecífica quanto às providências práticas. Enfiou na tragédia elogios inadequados a Lula. Porém… Porém, teve a delicadeza de encerrar a conversa com uma manifestação de solidariedade às famílias dos mortos. Ao levar o rosto ao cenário do drama, Dilma diferenciou-se de Lula, que não teve a mesma agilidade em crises análogas.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Portou-se, de resto, como uma espécie de anti-Bush. No dia 29 de agosto de 2005, uma segunda-feira útil, o furacão Katrina devastou a cidade de Nova Orleans. No instante em que feneciam dezenas de vítimas, George Bush, então presidente dos EUA, encontrava-se no Arizona, num compromisso inútil. Posava para fotógrafos segurando um bolo de aniversário. Os mortos avolumavam-se nas manchetes. E Bush festejava os 69 anos de vida de um senador republicano. Nas semanas seguintes, Bush lidou com a tragédia com a agilidade de uma tartaruga manca. Com isso, plantou em sua biogragia uma nódoa definitiva. Um pedaço da opinião pública americana atribuiu a lerdeza de Bush a um não-declarado preconceito racial. Líderes religiosos, políticos e artistas levaram ao noticiário a tese de que Bush demorou a prover socorro aos desabrigados porque a maioria era negra. No mês passado, em entrevista à apresentadora Oprah Winfrey, Bush foi instado revolver o passado omisso. Refutou a acusação de racismo. Mais de cinco anos depois do ocorrido, Bush revelou-se refém de sua própria omissão. Ao voar de Brasília para o Rio, Dilma fugiu desse figurino. Sua visita não devolveu as vidas ceifadas. Tampouco atenuou a aflição dos desabrigados. Mas salvou a biografia da presidente da pecha da omissão. Pouco? Talvez. Mas já é alguma coisa. Uma presidência também é feita de gestos. Eles são preferíveis à inação. blog Josias de Souza