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Igreja pega leve com Fernando Lugo

Palpiteira e dogmática em todo e qualquer assunto — até dos que não entende, por não praticar, como o casamento — a igreja católica, qual um PSDB teológico, opta pela dissimulação quando é chamada a se manifestar a respeito do seu (dela) ex-bispo. Nada contra, mas até que entre em vigor algum novo decreto canônico o celibato é questão fechada na taba de Herr Ratzinger. Os Tupiniquins, que não perdem a chance de uma gaiatice, já apelidam o país vizinho de Pairaguai. O editor Igreja pega leve com Lugo Filhos fora do casamento, todos nós os temos, não é mesmo? É o tipo de “acidente de percurso” que pega até os mais cautelosos na curva e que não faz distinção entre pessoas de bom ou mau caráter. E, muitas vezes, pela graça de Deus, o rebento não planejado acaba se tornando uma bênção na vida dos pais. Neste nosso canto de mundo, não damos muita bola para o que as pessoas fazem entre os lençóis. Arrisco dizer que, se Bill Clinton tivesse sido presidente do Brasil ou do Paraguai, seu maior problema em relação ao affair Monica Lewinsky teria sido renovar a fleuma ao abrir o jornal a cada café da manhã, a fim de digerir as piadas do Zé Simão. Vejo em uma pesquisa informal realizada por um site de notícias que a maioria dos internautas tapuias que se dispuseram a responder não vê nada de mais no fato de o presidente do Paraguai, o ex-bispo da Igreja Católica Fernando Lugo, 57, ser pai de um número até agora incerto de filhos bastardos. Apenas 5,36% acham que ele deveria perder seus direitos políticos. A maioria, 34,18%, acredita que Lugo deve ser obrigado a pagar pensão e não se fala mais nisso. Bem, só faltaria o presidente, que está sendo chamado de “o pai do Paraguai”, não se ter conscientizado de que terá de fazer muita hora extra se quiser ver toda a prole na universidade. Acontece que, além de presidente, Fernando Lugo é ex-clérigo. E que os filhos (aparentemente, existiriam até seis reivindicações conhecidas de paternidade até o momento) foram gerados quando ele ainda era representante da igreja. Na quarta-feira, a terceira mulher veio a público para revelar que teve um filho com ele. A ex-coordenadora de uma pastoral paraguaia, Damiana Morán, 39, disse que um de seus meninos, de um ano, é fruto de “uma explosão de sentimento” perpetrada em sintonia com o ex-bispo. O nome do rebento? Juan Pablo, em homenagem ao papa João Paulo 2º. Não é irônico que o bebê com o nome do santo padre tenha sido concebido no que a Igreja Católica define como pecado? De minha parte, folgo em saber que um ex-bispo e uma mulher aparentemente mais devota do que a média são tão falíveis quanto o resto de nós, que, por mais que nos esforcemos, estamos sempre operando aquém das expectativas da igreja. Essa mesma igreja que, na quarta-feira, por meio de dom Orani Tempesta, um dos porta-vozes da CNBB, emitiu a seguinte opinião sobre o caso: “Cada pessoa responde à fidelidade ou à infidelidade daquilo que promete. Acho que não cabe à igreja julgar ninguém, mas a cada um de nós, vendo as coisas, dizer se está sendo fiel àquilo com que se comprometeu”. Êpa, ôpa! Sinto aí um certo corporativismo em defesa do ex-colega. Se entendi direito, o bispo que virou presidente pode errar e se arrepender e não caberá a ninguém julgá-lo. Mas, quando os africanos decidem ser fiéis à ideia de usar preservativos para se defenderem de doenças sexualmente transmissíveis, aí a danação do inferno cai sobre eles. Ou, quando a mãe de uma menina estuprada pelo padrasto decide que a filha deve abortar, ela corre o risco de ser excomungada. E, quando os gays… Bem, deixa para lá, não é preciso ser teólogo para entender que existe tratamento VIP para uns e cadeira na geral do inferno para os menos privilegiados. blog da Barbara Gancia

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Ministro Joaquim Barbosa passeia no Rio e revolta colegas no STF

Em dia de expediente, o ministro celebrou a fama na rua. Parte dos colegas viu no gesto a intenção de ‘provocar’ “Vossa Excelência está destruindo a Justiça deste país […]. Saia à rua, ministro Gilmar. Faça o que eu faço”. Menos de 48 horas depois de lançar o repto a Gilmar Mendes, presidente do STF, Joaquim Barbosa foi ao meio-fio. Numa sexta-feira de expediente normal no Supremo, Joaquim desfilou sua notoriedade em pleno centro do Rio de Janeiro. Almoçou com uma trinca de amigos no Bar Luiz, tradicional ponto de encontro do carioca. Recebeu cumprimentos da dona do estabelecimento, Rosana Santos. Acenaram-lhe das mesas ao redor. Na saída, foi brindado com os “parabéns” da clientela. Desceu a pé a Rua da Carioca. Foi ao carro oficial só na altura da movimentada esquina com a Avenida Rio Branco. Formou-se em torno dele uma pequena aglomeração. Mais cumprimentos. O passeio ganhou a web. E chegou aos gabinetes do STF. Em privado, colegas de Joaquim, entre eles Gilmar Mendes, destilaram irritação. Enxergaram no “passeio” do desafeto a deliberada intenção de “provocar”. O blog tentou ouvir Gilmar. Ele não quis falar. Em público, o presidente do Supremo vem manuseando panos quentes. Na última quinta (23) negara a existência de crise no tribunal. Longe dos microfones, Gilmar lamenta os “prejuízos” à imagem do Supremo. O repórter ouviu dois ministros na noite desta sexta (24). Eis o que disse um deles: “É como se o ministro Joaquim quisesse demonstrar aos oito colegas que assinaram a nota de apoio ao Gilmar que as ruas desaprovam o texto…” “…É uma atitude infantil. Vai ficando claro que ele não tem a intenção de rever o comportamento que tem levado os colegas a tomar distância dele”. Ouça-se o outro magistrado: “O ministro Joaquim errou de palco. Para julgar no Supremo é preciso estudar a Constituição. Algo que não se faz nas ruas”. Abespinhado, um dos ministros lembrou que Joaquim é o recordista de processos pendentes de julgamento no STF: “Ele precisa trabalhar”. O blog foi ao portal eletrônico do Supremo. Não encontrou ali dados sobre a quantidade e a localização dos processos. Mediante pedido do repórter, o tribunal forneceu as informações. Sobre a mesa de Joaquim Barbosa repousam 17.207 processos. É, de fato, o campeão de pendências. Depois dele, as mesas mais apinhadas são as de Marco Aurélio Mello (13.015 processos), Carlos Alberto Menezes Direito (11.596)… …Carlos Ayres Britto (9.201), Cezar Peluso (8.472), Ellen Gracie (8.325), Cármen Lúcia (7.982)… …Ricardo Lewandowaki (6.180), Celso de Mello (5.909), Eros Grau (3.934) e Gilmar Mendes (2.723). No caso de Gilmar, o quadro do tribunal atribui 2.416 ao “presidente” e 307 ao “ministro”. Embora relevante, a quantidade de processos não é o único parâmetro na aferição da produtividade de um ministro. A favor de Joaquim pesa o fato de que é dele a responsabilidade pela condução do mais volumoso processo em tramitação no Supremo: o caso do mensalão. Seja como for, no vale-tudo que envenena a rotina do STF, o volume de processos é esgrimido como evidência de que Joaquim tem mais a fazer do que exibir-se na vitrine. Joaquim mandou a assessoria avisar à presidência que não dará as caras no STF na próxima semana. Informou-se que vai tratar das dores que lhe atormentam as costas. A ausência, por providencial, vinha sendo interpretada como um gesto conciliatório. Uma forma de contribuir para que os ânimos amainassem. Porém… Porém, o passeio carioca de Joaquim conspurcou o entendimento. Os colegas afirmam agora que não será medindo calçadas que o ministro se reconciliará nem com sua coluna nem com o pedaço do STF que desaprova suas explosões. No miolo da desavença que produziu o mais áspero barraco dos 200 anos da história do Supremo está, aliás, uma licença médica de Joaquim. Na sessão vespertina de quarta (23), a coisa desandou no instante em que se discutia um processo sobre a aposentadoria do funcionalismo do Paraná. A causa já havia sido julgada. Voltara à pauta para que os ministros decidissem a partir de que data vigiria a decisão do tribunal. A certa altura, Joaquim insinuou que Gilmar escondera dos colegas informações relevantes para a formação do juízo. Gilmar refutou. Disse que o processo fora esmiuçado em sessão anterior, à qual Joaquim não comparecera. Foi quando o caldo entornou (reveja lá no rodapé). Joaquim deve a toga a uma indicação de Lula. Está no STF há seis anos. Dá expediente também no TSE. Tornou-se um colecionador de desafetos. Na ponta do lápis, já se indispôs com seis colegas. No STF: Gilmar, Marco Aurélio Mello, Eros Grau e Celso de Mello. No TSE: Felix Fischer e Arnaldo Versiani. blog Josias de Souza

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Joaquim Barbosa antecipa oitiva dos acusados do mensalão

Mensalão: Barbosa antecipa oitiva O ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, alterou o calendário de oitivas das testemunhas arroladas pelos advogados de defesa dos réus na ação que investiga o esquema de venda de apoio dentro do Congresso Nacional; o famoso mensalão. A mudança no calendário ocorreu porque uma das três testemunhas residentes em Uberlândia (MG) não foi localizada e, com isso, a defesa pediu a antecipação da oitiva das três testemunhas residentes em Ipatinga (MG) para esta sexta (24). coluna Claudio Humberto

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Pro dia nascer melhor – 26/04/2009

Ante Susan Boyle Fernando Pessoa tinha razão: “tudo vale a pena se a alma não for pequena”! O editor I love Susan Boyle O vídeo tem a qualidade de um exemplo moral: sonhar pede coragem, resistência e seriedade por Contardo Calligaris – Folha de São Paulo Eu estava com minha coluna pronta (escrevo entre domingo e segunda) e, ao abrir o jornal, descobri que João Pereira Coutinho, neste mesmo espaço, também tinha-se apaixonado por Susan Boyle. Tudo bem, não sou ciumento. Mesmo assim, por um momento, pensei escrever, na última hora, outra coluna. Mas, lendo Coutinho, percebi que a gente pode se apaixonar pela mesma pessoa por razões diferentes. Aqui vai. Em poucos dias, dezenas de milhões de pessoas, pelo mundo afora, assistiram ao vídeo de Susan Boyle cantando “I Dreamed a Dream” (eu sonhei um sonho). Assistiram e choraram lágrimas comovidas. Acesse a internet e veja uma das versões (por exemplo, www.youtube.com/watch?v=8OcQ9A-5noM). Se quiser mais, assista à entrevista de Susan Boyle à rede americana CBS, durante a qual Boyle canta um trecho da música a capela (watching-tv.ew.com/2009/04/susan-boyle-cbs.html). Provavelmente, Susan Boyle gravará um CD, e o comprarei. Talvez, um dia, ela venha ao Brasil, e estarei no show, mesmo a preço de cambista. Mas nada disso se comparará com o momento extraordinário registrado no vídeo que está hoje no YouTube. Por quê? Vamos com calma. Susan Boyle se qualificou nas preliminares para participar de “Britain’s Got Talent” (a Grã-Bretanha tem talento), que é mais uma versão (inglesa) de “American Idol”, o programa de televisão que começou nos EUA e foi repetido em vários países -no Brasil, “Ídolos”, na TV Record. Trata-se, a cada ano, de premiar um cantor ou uma cantora, descobrindo novos talentos. Na verdade, a seleção para chegar até à final talvez seja o que mais diverte as plateias, nos teatros de gravação ou em casa: o vexame da maioria dos concorrentes funciona como um bálsamo para todas as covardias que nos impedem de correr atrás de nossos sonhos. Algo assim: “Olhe o que aconteceu com quem ousou. Ainda bem que eu não fui!”. Susan Boyle entrou no palco como uma espécie de anticlímax; ela era tudo o que não se espera de uma aspirante a estrela: quase 48 anos, solteirona, desempregada, vestida (disse um amigo estilista) como a rainha Elizabeth se ela fosse pobre, “gordinha” e “feinha”. Os diminutivos indicam que sua aparência não era extraordinária nem negativamente, mas a tornava transparente: aquela figura papel de parede, de quem ninguém se lembra se ela estava na festa ou não. Para completar, respondendo às perguntas de Simon Cowell (que preside o júri), ela pareceu quase tola e um tanto vulgar, balançando os quadris para dar mostra de sua juventude de espírito. Quando Susan Boyle anunciou que seu sonho era ser cantora como Elaine Page (a inesquecível Grizabella de “Cats”, em Londres, em 1981), o júri e a plateia não esconderam seu desdém. Aí Susan Boyle começou a cantar. A performance foi propriamente incrível; por um instante, pensei que Boyle estivesse apenas mexendo os lábios enquanto tocava uma gravação: uma voz forte, limpa, segura e expressiva, fiel às emoções que se alternam ao longo das letras. Também a música que Susan Boyle escolheu (letras de Alain Boublil) contribuiu para transformar sua performance numa espécie de exemplo moral: fala de um sonho antigo, sonhado quando “a esperança falava alto e a vida valia a pena”, na época em que “os sonhos são criados, usados e desperdiçados”; mas há “tempestades” que “transformam nossos sonhos em vergonha”, e, no fim, em regra, a vida massacra os sonhos que sonhamos. Então, qual é a moral da performance? Para Coutinho, a moral é que, na vida, não basta se esforçar: é preciso ter sorte. Entendo assim: Susan, até aqui, não teve sorte, a gente se comove porque é tarde demais ou porque, enfim, o destino a encontrou em sua aldeia perdida. Para mim, a moral é outra. Não sei se Susan teve sorte ou não. Cuidar longamente da mãe doente e cantar com os amigos no karaokê da vila é uma vida que pode valer a pena, talvez mais do que uma vida nas luzes da ribalta. O que me comoveu tem mais a ver com a coragem e a resistência de seu sonho. Os entrevistadores da CBS perguntaram a Susan Boyle como ela conseguiu se concentrar e cantar, embora percebesse que o júri e a plateia não a levavam a sério e já estavam antecipando a zombaria. Ela respondeu, com simplicidade: “É a gente que tem de se levar à sério”.

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