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A igreja do Papa que veste Armani e calça sapatos Prada

Falando um pouco de religião por Danuza Leão As freiras ainda nos induziam a fazer sacrifícios. Depois disso, igreja, para mim, só em excursão turística. EU ESTUDEI em colégio de freiras e posso falar de cadeira dos recreios que perdi aos sete, oito anos, ajoelhada no milho na capela, para pagar os meus pecados. Isso não é sadismo em alto grau? Fico tentando lembrar que pecados seriam esses. Teria falado na hora da aula? Teria comido um pedaço da sobremesa antes do almoço? Teria deixado de fazer algum dever? E as freiras ainda nos induziam a fazer sacrifícios, tipo deixar de comer uma mariola ou uma paçoca por amor a Deus. Sacrifício, a palavra que define a Santa Igreja Católica. E a missa obrigatória em todos os domingos e dias santificados? [ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]Depois disso, igreja, para mim, só em excursão turística – e assim mesmo só algumas. É possível considerar o desejo sexual um pecado, um orgasmo um pecado, ter relações sexuais, mesmo de casais casados na igreja, sem outra intenção, a não ser a de procriar, um pecado? E ao considerar quase tudo que dá prazer um pecado, não dá para perceber o quanto as mentes católicas são doentes? E malvadas? Os sacrifícios, tão cultuados entre os católicos – cordas apertando a cintura, debaixo do vestido, até sangrar, eram um grande sinal de amor a Deus. Mas o que deve acontecer naqueles conventos e seminários, com aquele monte de moças e rapazes com seus hormônios explodindo, mas tendo que seguir o sentido contrário ao da natureza para amar a Deus sobre todas as coisas, isso é segredo, e jamais saberemos o que lá se passa – mas minha mão no fogo eu não boto. Será que são todos castos? Dos padres pedófilos se fala um pouquinho, mas logo o assunto é esquecido. E da excomunhão dos médicos que fizeram o aborto na menina de nove anos estuprada não vou nem falar, porque tudo já foi dito. Para a Santa Madre Igreja, quanto mais se sofre mais se tem direito ao reino dos céus. Quem tiver uma doença grave será recompensado, se for cego, surdo, mudo e paralítico, é considerado um santo, praticamente, e ai dos que são felizes, dão risadas e gostam da vida. Estes estão condenados às trevas do inferno. Para ser um católico de verdade é preciso sofrer, e quanto mais, melhor. Como têm prestígio as carolas vestidas de preto, com um véu na cabeça e um terço na mão, falando que este mundo está perdido (e levando um pratinho de biscoitos para os padres). Perdido está quem não aproveitou esta vida e nunca ouviu falar em felicidade, pois o que vem depois ninguém sabe direito. Pelo menos, ninguém voltou pra contar. Mas também me revoltam as invenções praticadas em nome de Deus, das mais banais às mais revoltantes. Quem pode, em sã consciência, jurar amor “até que a morte nos separe?” Quem faz uma jura dessas é hipócrita, porque até as crianças do jardim-de-infância sabem que a vida não é assim. Mas do que os cardeais gostam mesmo é dos paramentos, das vestes de brocado, dos cálices de ouro, dos tronos incrustados de pedrarias, do luxo das igrejas de ouro, dos quadros mais preciosos deste mundo e de dar declarações absolutamente inúteis, tipo “o papa está muito preocupado com a fome no mundo”, como se essa preocupação resolvesse alguma coisa. Esse papa, aliás, que veste Armani e sapatos vermelhos de Prada. Se o Vaticano se desfizesse de metade de seus tesouros, é bem possível que não houvesse mais fome no mundo. Fui batizada, crismada e fiz a primeira comunhão, mas não cheguei ao ponto de me casar no religioso; e não me incomodaria nem um pouco se fosse excomungada. da Folha de São Paulo

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Câmara aprova lei da obrigatoriedade de Air Bag em todos os veículos

A força da mão invisível Paulo Cesar Marques da Silva[1] blog do Noblat A Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feria 18 de fevereiro a obrigatoriedade do airbag em todos os automóveis que circularão no Brasil, sejam eles montados aqui ou importados. Imediatamente, todas as redes de TV saíram a campo para repercutir a notícia. Certamente por viver em Brasília, gravei entrevistas no mesmo dia para duas redes nacionais, para uma terceira no dia seguinte e uma quarta na sexta-feira 20. Em rigorosamente todas as entrevistas que dei, falei da eficácia do dispositivo mas também discuti as razões da obrigatoriedade. De fato, não há dúvidas de que a medida reduzirá a gravidade de traumatismos causados por colisões e outras ocorrências – raramente acidentais, diga-se de passagem – em condutores e passageiros dos bancos dianteiros de automóveis. E é óbvio que tal redução terá um reflexo positivo na estatísticas, no sistema de saúde etc. Entretanto, o airbag não aumenta a segurança no trânsito, no sentido de evitar sinistros. Aliás, essa é uma diferença importante entre o airbag e o cinto de segurança, embora ambos tenham como principal função proteger os ocupantes do veículo (o que fazem muito bem): o cinto preserva o acesso do motorista aos controles do veículo, se ainda for possível controlá-lo, enquanto o airbag o dificulta, quando não o impede completamente. Essa diferença explica a obrigatoriedade do cinto, como fator de segurança no trânsito em geral, e justifica o questionamento quanto à obrigatoriedade do airbag. Afinal, em casos extremos (e talvez improváveis, é verdade), o airbag pode dificultar alguma ação do motorista que venha a evitar danos maiores às pessoas que estiverem fora de seu veículo. De todo modo, o airbag pode até não prejudicar quem estiver fora do veículo equipado com ele – mas, diferentemente do cinto, não tem qualquer efeito positivo sobre pedestres e ciclistas, por exemplo. Especulações à parte, o fato é que nenhuma das emissoras de TV contemplou essa discussão nas edições das entrevistas que eu dei. Sintomaticamente, todas usaram exatamente os mesmos filmes dos testes que comprovam a eficácia do airbag. Faz-nos pensar na força que tem a mão invisível das montadoras e da indústria de autopeças. ***** [1]Paulo Cesar Marques da Silva possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Bahia (1983), mestrado em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e doutorado em Transport Studies pela University College London (2001). Trabalhou como engenheiro de tráfego na Prefeitura de Salvador e na Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro. Atualmente é professor adjunto da Universidade de Brasília, onde ingressou em 1993.

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Aborto e excomunhão. Entrevista com Dom José Cardoso Sobrinho

Trechos da entrevista que Dom José Cardoso Sobrinho, bispo de Olinda e Recife, concedeu à revista Veja nas Páginas Amarelas. Abaixo trechos da entrevistas. entrevista a Juliana Linhares Por que o senhor acha que tantas pessoas, católicas em sua maioria, ficaram revoltadas com a sua posição no caso da excomunhão dos adultos envolvidos no aborto da menina violentada? Em primeiro lugar, nós temos de colocar essa questão no âmbito religioso. Acreditamos em Deus? É sim ou é não. E eu suponho que a grande maioria das pessoas acredita. E acreditar em Deus significa aceitar que Deus é a origem de tudo e é também o nosso fim. Essa é uma verdade fundamental. É premissa importantíssima para dizer que a lei de Deus está acima de qualquer lei humana. E a lei de Deus não permite o aborto. Então, se uma lei humana está contradizendo uma lei de Deus, no caso, a que permitiu a operação, essa lei não tem nenhum valor. Quanto ao que você afirma, sobre as pessoas estarem revoltadas, tenho de dizer que também houve um clamor grande, eu diria enorme, de autoridades de Roma a meu favor. Tenho sido insultado, claro, mas hoje mesmo recebi uma carta de Giovanni Battista Re, prefeito da Congregação para os Bispos em Roma, em que me elogia. O que o senhor diria aos católicos que condenaram sua atitude? Antes de tudo, quero deixar bem claro que não fui eu que excomunguei os médicos que praticaram o aborto e a mãe da menina. Isso é falso. Eu não posso excomungar ninguém. Eu simplesmente mencionei o que está escrito na lei da Igreja, o cânone 1 398, do Código de Direito Canônico, que está aí nas livrarias para qualquer um ler. Por essa lei, qualquer pessoa que comete aborto está excomungada, por uma penalidade que se chama latae sententiae, um termo técnico que significa automática. Então, não foi dom José Cardoso Sobrinho quem os excomungou. Eu simplesmente disse a todos: “Tomem consciência disto”. Qualquer pessoa no mundo inteiro que pratique o aborto está incorrendo nessa penalidade – mesmo que ninguém fale nada. Quem é católico sabe que na primeira carta de São Paulo a Timóteo, no capítulo II, está escrito: Deus quer que todos sejam salvos. Por que estupradores não são também automaticamente excomungados? A nossa santa Igreja condena todos os pecados graves. O estupro é um pecado gravíssimo para a Igreja, assim como o homicídio. Agora, a Igreja diz que o aborto, isto é, o ato de tirar a vida de um inocente indefeso, é muito mais grave que o estupro, que o homicídio de um adulto. Qualquer pessoa inteligente é capaz de compreender isso. Eu não estou dizendo que o estupro e a pedofilia são coisas boas. Mas o aborto é muito mais grave e, por isso, a Igreja estipulou essa penalidade automática de excomunhão. Em que outros casos se aplica a excomunhão automática? No Código de Direito Canônico anterior, promulgado por Bento XV, havia cerca de quarenta motivos para a excomunhão automática. Em 1983, sob a autoridade de João Paulo II, foi publicado um novo Código. O atual os reduziu a apenas nove. São eles: o aborto; a apostasia, que é quando a pessoa abandona a religião; a heresia, que acontece quando uma pessoa nega um dogma da Igreja; a violência física contra a pessoa do papa; a consagração de um bispo sem a licença do papa; o cisma; a absolvição por um sacerdote do cúmplice de um pecado da carne; a violação direta do segredo da confissão; e a profanação das hóstias consagradas.

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