Muito Além do Jardim.Por Rubens Vaz da Costa – Economista. Ex-Presidente do Banco do Nordeste e Ex-ministro. Estudioso dos problemas do Brasil e autor de inúmeros livros. www.meurecife.com.br – www.rubensvazdacosta.com.br Como o presidente surfa na onda dos escândalos enquanto o PT foi engolido por ela, na visão dos estrategistas de comunicação do candidato à reeleição – corroborada pelas pesquisas e pelo senso comum -, o melhor a fazer no momento é arquivar a figura do militante petista e evidenciar a imagem de Lula como presidente de todos os brasileiros, um personagem acima das questões partidárias. É verdade que a ausência total de sutileza com que o partido com o qual Lula mantém relação de simbiose desde a entrada na vida pública foi cortado da propaganda eleitoral deu a impressão de que o presidente está morrendo de vergonha do PT. Não, ele continua muito à vontade na condição de petista-símbolo – conforme demonstra nas defesas sistemáticas que faz dos amigos de fé, irmãos, camaradas – e por isso classifica como “bobagem” as interpretações negativas a respeito da ausência do partido em seu programa do horário eleitoral. O que ele não quer por hora é dar o abraço do afogado no PT e, justamente por ele e o partido serem uma coisa só, faz isso sem cerimônia, vontade, certo de que o petista compreenderá seus motivos de força maior. São temporários. A mesma lógica pautou o pedido de uma trégua nas invasões ao MST em 2002, para que o radicalismo em crescente estado de repúdio junto à população não prejudicasse a eleição de Lula. Uma vez eleito, o presidente não demorou a retomar suas relações com os sem-terra, recebendo-os em palácio, pondo na cabeça o boné do movimento e deixando de cumprir a legislação em vigor para não punir invasores nem excluir da reforma agrária as terras invadidas. Continua valendo, no tocante ao PT, a simbologia da estrela depositada em flores nos jardins do Palácio da Alvorada, mas, no momento, só para consumo interno. Não por outro motivo senão a segurança na relação o presidente do partido, Ricardo Berzoini, avalizou a combinada separação. Acredita que seja para o bem geral da Nação. Mas, como tudo na vida, há um outro lado nessa história. No caso, dois lados. O do adversário, que tão logo confirme ser mesmo um constrangimento a presença do PT possivelmente se encarregue de ressaltá-la, e o lado dos petistas – os candidatos, os militantes e os simpatizantes. Gente que sempre teve orgulho da legenda que durante anos simbolizou a esperança (ilusão?) numa forma diferente de fazer política e governar, representou num cenário de siglas sem identidade popular nem firmeza ideológica ou coesão doutrinária o que significava o exemplo único de partido que justificava sua razão de ser. Esse povo não se descolará de Lula, não deixará de apoiá-lo, de acreditar nele como líder e único presidente capaz de fazer do Brasil um país mais justo. A recíproca é verdadeira: Lula tampouco abandonará o PT, sua criação e inspiração. Até porque é ali seu porto seguro, o mar aberto é traiçoeiro e as calmarias não são duradouras. Mas, por mais que compreendam as razões que só o pragmatismo conhece e entendam a necessidade premente do gesto, não devem se sentir confortáveis quando vêem o capitão abandonar o barco, deixando a marujada à deriva. Roncos da reação.O presidente do Conselho de Ética do Senado, João Alberto Souza, deu o dito pelo não dito e recuou da explícita intenção, manifestada no dia anterior, de arquivar liminarmente os pedidos de abertura de processos por quebra de decoro parlamentar contra os senadores Magno Malta, Ney Suassuna e Serys Slhessarenko. A posição do senador João Alberto de rejeitar os depoimentos dos empresários da máfia das ambulâncias como prova foi uma reação do atraso – vívido no Congresso – ao trabalho da CPI dos Sanguessugas, o primeiro ato do Legislativo recebido com satisfação pela sociedade. O presidente do Conselho de Ética não voltou atrás porque quis, mas porque foi obrigado. O senador José Sarney, a quem o maranhense João Alberto é ligado, o presidente do Senado, Renan Calheiros, comandante-em-chefe do PMDB governista, e, por extensão, o Palácio do Planalto, acabariam pagando a conta do desgaste. Presença de FH.De preferência, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ficará longe do horário eleitoral. O argumento oficial é claro que não é a rejeição a FH registrada nas pesquisas, mas o fato de que ele “pertence à história”. Nessa condição, age só nos bastidores, como conselheiro-mor. Ontem mesmo comandou uma reunião para discutir forma e conteúdo da propaganda política. Mas, conforme for, o ex-presidente pode aparecer para defender a candidatura de Geraldo Alckmin nos últimos programas, já às vésperas das eleições.
Extraída do Blog do Noblat – autoria de Lúcia Hippólitohttp://noblat1.estadao.com.br/noblat/index.htmlA Câmara não cassou o mandato dos deputados mensaleiros.A Justiça não puniu os políticos indiciados pelo procurador-geral da República como membros da “sofisticada organização criminosa” que pretendia tomar de assalto o Estado brasileiro para se perpetuar no poder.Os partidos políticos não negaram legenda a essa gente, que está outra vez nas ruas pedindo o meu, o seu, o nosso voto. E agora, toda a responsabilidade é jogada nas costas do pobre do eleitor brasileiro. Se o Congresso eleito em outubro for composto de mensaleiros, sanguessugas e ex-ministros enrolados na Polícia Federal, a culpa será dos eleitores, que não sabem votar, que não se interessam pela política, que não se importam com roubalheiras nem com escândalos. Certo? Erradíssimo! A Justiça Eleitoral e parte da mídia estão jogando sobre os ombros do eleitorado um encargo que é dele apenas em parte. É preciso distribuir corretamente as responsabilidades. Ao eleitor cabe cuidar bem de seu voto. Investigar a vida pregressa do candidato, sua experiência profissional, sua vida privada. Não existe uma ética privada diferente da ética pública. Por isso, a vida particular do candidato interessa, e muito. É preciso saber se ele bebe, se bate na mulher, se dá propina ao guarda, se não se incomoda em sonegar imposto, se compra produtos piratas, se acha que só um pouquinho de corrupção não tem importância. Se costuma fazer uso de caixa dois. Se tem mais de um CPF. Em suma, tudo o que for possível saber a respeito do candidato é importante. Mas não basta. O eleitor pode escolher o melhor candidato entre todos – e contribuir para eleger o pior. A distorção do sistema eleitoral brasileiro é de tal ordem que, uma vez digitado na urna eletrônica, o voto escapa inteiramente ao controle. O eleitor não tem a menor idéia de quem vai ser eleito com o seu voto. Isto porque o voto proporcional praticado no Brasil é uma combinação explosiva: lista aberta, permissão de coligação e mecanismo perverso de distribuição de sobras. No limite, o eleitor pode votar num candidato da extrema-esquerda e seu voto servir para eleger um candidato da extrema-direita. Na legislatura que se encerra agora no fim do ano, dos 513 deputados federais, apenas 33 foram eleitos com os próprios votos, ou seja, atingiram o quociente eleitoral. Apenas 6,43% da Câmara! Os restantes 480 deputados, isto é, 93,56%, foram eleitos com votos da legenda, da coligação ou das sobras eleitorais. Por isso, é vital levar em conta essas observações quando alguém tentar responsabilizar o pobre do eleitor brasileiro pela eleição de um Congresso ainda pior do que este que vai se despedindo sem deixar saudade. No sistema eleitoral, no próprio Congresso, na Justiça e nos partidos políticos deverá ser espetada esta fatura. Enviado por Sérgio Franco – Salvador,BA.