Vicent Andrès Estellès – Versos na tarde – 18/09/2015
Os amantes Vicent Andrès Estellès ¹ “Em Valência não havia dois amantes como nós”. Amávamo-nos ferozmente de manhã à noite. Recordo tudo enquanto vais estendendo a roupa. Passaram anos, muitos anos; aconteceram muitas coisas. De súbito ainda me colhe aquele vento ou o amor e rodamos sobre a terra entre abraços e beijos. Não concebemos o amor como um costume pacífico, um costume amigável de troca de cumprimentos e galanteios (e que nos perdoe o casto senhor López Picó). Como um velho furação, ele acorda repentinamente e atira-nos aos dois ao chão, junta-nos, empurra-nos. Eu desejava, às vezes, um amor educado, com música de fundo, beijando-te negligentemente agora um ombro, depois a ponta de uma orelha. O nosso amor é um amor brusco e selvagem e nós temos a nostalgia amarga da terra e de ir aos trambolhões entre beijos e arranhões. Que querem que faça? É assim, já o sei. Ignoramos Petrarca e muitas outras coisas. As Estâncias de Riba e as Rimas de Bécquer. Depois, tombados na terra, de qualquer maneira, compreendemos que somos bárbaros, e que isso não pode ser, que já não temos idade, e tudo isto e aquilo. Que já não temos idade, e tudo isto e aquilo. Não havia em Valência dois amantes como nós, porque amantes como nós são paridos muito poucos. ¹ Vicent Andrés Estellés * Burjassot, Espanha – 4 de setembro de 1924 d.C + Valência, Espanha – 27 de março de 1993 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]