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T.S. Eliot – Poesia – 11/06/24

Boa noite. Retrato de uma dama-III T.S. Eliot¹ Cai a noite de Outubro; regressando como outrora, Excepto por uma leve sensação de estar inquieto, Galgo os degraus e giro a maçaneta da porta E sinto como se houvesse subido de quatro as escadas. “Com que então viajas? E quando voltas? Ora, que pergunta mais tola! Dificilmente o saberias. Hás de achar muito o que aprender lá fora.” Caiu-me lento o sorriso entre objetos antigos. “Poderás talvez escrever-me?” Por um segundo subiu-me o sangue à cabeça Como se assim eu calculasse este momento. “Tenho-me surpreendido com frequência ultimamente (Mas nossos princípios ignoram sempre nossos fins!) Por jamais nos havermos tornado amigos.” Senti-me como quem sorrisse, e ao voltar percebi, De repente, sua vítrea expressão. Perdi todo o controle; e em trevas na verdade mergulhamos. “Eu disse o mesmo para todos, todos os nossos amigos, Estavam todos certos de que nossos sentimentos Poderiam conjugar-se tão intimamente! Eu mesma dificilmente o entendo. Deixemos que isto fique agora à sua sorte. Escreverás, de quando em vez. E talvez nem demores tanto a fazê-lo. Estarei sentada aqui, servindo chá aos amigos.” E devo então trocar de forma a cada instante Para dar-lhe afinal uma expressão… dançar, dançar Como faria um urso bailarino, Tagarelar como um papagaio, rilhar os dentes como um bugio. Respiremos um pouco, no torpor de uma tragada. Bem! E se ela morresse numa tarde qualquer, Numa tarde enevoada e cinzenta, num encardido e róseo crepúsculo; Se ela morresse e me deixasse aqui sentado, a caneta entre os dedos. A névoa a cair sobre os telhados; Por um momento me perco em dúvidas, Já que não sei o que sentir ou se o entendo, Se sou um sábio ou simplesmente um tolo, cedo ou tarde… Não colheria ela algum lucro, afinal? Essa melodia culmina com uma “agonia de outono” E já que aqui falamos de agonia — Algum direito a sorrir eu teria? ¹Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880

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T.S.Eliot – Poesia – tarde – 26/04/24

Boa noite. Gerontion’s – Parte I T.S.Eliot Thou hast nor youth nor age, But, as it were, an after dinner’s sleep, Dreaming on both. (William Shakespeare, Measure for Measure, “Não és jovem nem velho, / mas como, se após o jantar adormecesses,/ Sonhando que ambos fosses.”) Eis-me aqui, um velho em tempo de seca, Um jovem lê para mim, enquanto espero a chuva. Jamais estive entre as ígneas colunas Nem combati sob as centelhas de chuva Nem de cutelo em punho, no salgado imerso até os joelhos, Ferroado de moscardos, combati. Minha casa é uma casa derruída, E no peitoril da janela acocora-se o judeu, o dono, Desovado em algum barzinho de Antuérpia, coberto De pústulas em Bruxelas, remendado e descascado em Londres. O bode tosse à noite nas altas pradarias; Rochas, líquen, pão-dos-pássaros, ferro, bosta. A mulher cuida da cozinha, faz chá, Espirra ao cair da noite, cutucando as calhas rabugentas. E eu, um velho, Uma cabeça oca entre os vazios do espaço. Tomaram-se os signos por prodígios: “Queremos um signo!” A Palavra dentro da palavra, incapaz de dizer uma palavra, Envolta nas gazes da escuridão. Na adolescência do ano Veio Cristo, o tigre. Em maio cqrrupto, cornisolo e castanha, noz das faias-da-judéia, A serem comidas, bebidas, partilhadas Entre sussurros; pelo Senhor Silvero Com suas mãos obsequiosas e que, em Limoges, No quarto ao lado caminhou a noite inteira; Por Hakagawa, a vergar-se reverente entre os Ticianos; Por Madame de Tornquist, a remover os castiçais No quarto escuro, por Fraülein von Kulp, A mão sobre a porta, que no vestíbulo se voltou. Navetas ociosas Tecem o vento. Não tenho fantasmas, Um velho numa casa onde sibila a ventania Ao pé desse cômoro esculpido pelas brisas Tradução Ivan Junqueira 1 Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880 Gerontion é um poema feito por T. S. Eliot que foi primeiramente publicado em 1920. O especialista de obras de Eliot, Grover Smith, disse sobre o poema: “Se alguma noção continuou disto nos poemas de 1917, Eliot estava sentimentalmente contrastando um passado resplendor com um presente triste, Gerontion veio para dissipar isto.” Outros poetas e artistas anglófonos utilizam trechos do poema para citar em suas obras. São formas de comunicação que Eliot estabelece com seu público para que este entenda que há algo maior em jogo. E o que é que está em jogo? Nada menos que todo o problema da tradição, considerada já em inícios do século XX como um cadáver que precisava ser eliminado da cultura ocidental e substituído por uma nova maneira de olhar o mundo – o modernismo revolucionário que viria a transformar a estrutura da realidade em um pesadelo. De suas janelas ventosas Gerontion olha para uma colina estéril: mais uma vez o olho sobe para descer em um abismo, revertendo o movimento de Dante e os santos cristãos que seguiram a “Descida de Santo Agostinho para que possa subir”. A mente de Gerontion vaga para trás, no entanto, não para cima – já em 480 aC ea batalha de Thermopylae (que se traduz como “portões quentes”), em seguida, avançar através de uma série de guerras que Gerontion sente teria compensado ele se ele tivesse estado lá lutar. Ele pensa na história como um sistema de corredores engenhosamente planejados para confundir e finalmente corromper a raça humana. História é uma “ela” – como sua velha governanta, cutucando um dreno entupido; Também como Fräulein von Kulp (para culpa?) Que se voltou sedutoramente no corredor; Ou a mística Madame de Tornquist (um torniquete, ou parafuso para parar o sangue?). Como essas mulheres, a história não leva a nada senão a corrupção. Ela “dá muito tarde ou muito cedo”, como uma mulher frustrante, e ela deixa seu amante não só de má vontade, mas assustado. Os esforços heróicos para satisfazer as exigências obscuras da história levaram a nada além de crueldade e ódio. E nesta história “veio Cristo o tigre”. Gerontion pensa da vinda de Christ em duas maneiras, primeiramente como um infante inútil e então como um tigre caçado. Esta parte do poema costuma ser mal interpretada, porque ninguém observa que Eliot deixou intencionalmente a frase emprestada de Lancelot Andrewes com “a Palavra” sem capitalização. Assim, em “Gerontion” lemos apenas de “A palavra dentro de uma palavra, incapaz de falar uma palavra.” Eliot sabia o que ele era quando ele restaurou a capital em “A Song for Simeon” e “Ash-Wednesday” (1930): “A palavra dentro da palavra [bíblica], incapaz de falar uma palavra”. Como Gerontion reflete, a resposta ao clamor dos filisteus por um “sinal” foi decepcionante Uma criança sem palavras, que passou da escuridão do inverno e das faixas para uma mola “depravada”, quando se transformou em um tigre ravening – um animal sacrificial que na vida contemporânea é caçado e comido por transientes bloodless como os pensionistas Silvero, Hakagawa, Fräulein von Kulp, e Madame de Tornquist. “O tigre nasce no ano novo” faz “molas” uma syllepsis, ou trocadilho, significando tanto “surge como uma primavera rejuvenescedora” e “pounces como um animal assassino”. Em João 6: 52-58, Jesus diz que aqueles que levam seu corpo e sangue para se tornarem um com ele em comunhão viverão eternamente, enquanto aqueles que o rejeitam morrerão. Gerontion conclui que esta doutrina moribunda veio devorar aqueles que não devoram “o tigre”, como fazem os pensionistas de Gerontion. Para eles, a refeição ritual não é “comunhão”, mas um canibal “divisão”. “Depois de tal conhecimento”, de fato, “que perdão?” Eloise Knapp Hay – Da maneira negativa de TS Eliot . Harvard University Press, 1982

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T.S.Eliot – Poesia – 10/10/23

Boa noite Lírica T.S.Eliot¹ Se o tempo e o espaço, como os sábios dizem São coisas que não podem ser, O sol que não percebe o seu declínio Não é maior do que nós somos. Então, por que, Amor, imploraríamos Por vivermos todo um século? A borboleta que só vive um dia Viveu por toda a eternidade. As flores que te dei quando o rocio Estremecia sobre a vinha Murcharam antes que a abelha voasse Para sugar a madressilva. Que então nos deixem as colher ainda Sem lamentar sua agonia, E embora sejam poucos os dias de amor Deixemo-los ao menos ser divino ¹ Thomas Stearns Eliot – Prêmio Nobel de Literatura de 1948 * St. Louis, Missouri, EUA – 26 de setembro de 1888 +Kensington, Londres, Reino Unido – 4 de janeiro de 1965 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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T.S. Eliot – Poesia – 10/10/23

Boa noite Rapsódia de uma noite de vento T.S.Eliot ¹ Doze horas. Pelos caminhos da rua Preso em síntese lunar A sussurrar encantos lunares Dissolvem-se os assoalhos da memória E suas relações claras Divisões e precisões, Todo poste que passo Bate como um tambor fatalista, E pelos espaços do escuro A meia-noite chacoalha a memória Como um louco chacoalha um gerânio morto. Uma e meia, A luz do poste gagueja, A luz do poste rumoreja, A luz do poste diz, “Veja aquela mulher Que hesita na tua direção à luz da porta Que se abre a ela como uma bocarra. Vê-se que a barra do vestido Está rota e suja de areia, E que o canto do olho dela Se retorce como um alfinete”. A memória vomita alta e seca Uma turba de coisas tortas; Um galho retorcido sobre a praia Carcomido, liso, polido Como se o mundo entregasse O segredo de seu esqueleto Branco e rijo. Uma mola quebrada numa fábrica, Ferrugem que se prende à forma que a força abandonara Dura e tesa e prestes a estourar. Duas e meia, A luz do poste diz, “Note o gato à sarjeta, como se aconchega, Mostra a língua E devora um rançoso naco de manteiga”. Então a mão da criança, automática, Saiu e embolsou um brinquedo que corria pela pedreira. Não pude ver nada por trás do olhar daquela criança. Vi olhos na rua Tentando espiar pelas cortinas acesas, E um siri à tarde numa poça, Um siri velho com cracas nas costas; Prendendo a ponta do graveto que estendi pra ele. Três e meia, A luz do poste gagueja, A luz do poste rumoreja no escuro. A luz entoou: “Veja a lua, La lune ne garde aucune rancune, Ela pisca um olho flébil Ela sorri nas esquinas. Alisa o cabelo da relva A lua perdeu a memória. Uma varíola lavada racha-lhe o rosto, Sua mão retorce uma rosa de papel, Com cheiro d’água de colônia velha e pó Ela está só Com todos os cheiros noturnos Que cruzam e cruzam os cruzamentos de seu cérebro. A reminiscência vem De gerânios secos sem sol E poeira nos cantos, Cheiros de castanhas nas ruas, E cheiros de mulher em quartos cortinados, E cigarros nos corredores E cheiros de coquetéis nos bares”. A luz diz, “Quatro horas, Eis o número na porta. Memória! Você tem a chave, A luz espalha um círculo na escada, Suba. A cama aberta; a escova de dente pendurada, Sapato à porta, durma, a vida o aguarda”. A torção final da facada. (tradução de Adriano Scandolara) ¹ Thomas Stearns Eliot – Prêmio Nobel de Literatura de 1948 * St. Louis, Missouri, EUA – 26 de setembro de 1888 +Kensington, Londres, Reino Unido – 4 de janeiro de 1965[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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T.S. Eliot – Poesia – Versos na tarde – 31/05/2017

A Terra Desolada, 1922 T.S Eliot¹ IV. O Sermão do fogo II Tereu Cidade irreal, Sob a fulva neblina de um meio-dia de inverno O Senhor Eugênides, o mercador de Smyrna, A barba por fazer e o bolso cheio de passas coríntias C.I.F. Londres, documentos à vista Convidou-me em seu francês vulgar (demótico, eu diria) A almoçar no Cannon Street Hotel E a passar um fim de semana no Metropole. À hora violácea, quando os olhos e as costas Às mesas de trabalho renunciam, quando a máquina humana aguarda Como um trepidante táxi à espera, Eu, Tirésias, embora cego, palpitando entre duas vidas, Um velho com as tetas engelhadas, posso ver, Nessa hora violácea, o momento crepuscular que luta Rumo ao lar, e que do mar devolve o marinheiro à sua casa; A datilógrafa que ao lar regressa à hora do chá, Recolhe as sobras do café da manhã, acende O fogareiro e improvisa seu jantar em latas de conserva. Suspensas perigosamente na janela, suas combinações Secam ao toque dos últimos raios solares. Sobre o divã (à noite, sua cama) empilham-se Meias, chinelos, batas e sutiãs. Eu, Tirésias, um velho de enrugadas tetas, Percebo a cena e antevejo o resto. – Também eu aguardava o esperado convidado. Chega então um rapaz com marcas de bexiga, Um insignificante balconista de olhar atrevido, Um desses tipos à-toa em que a arrogância assenta tão bem Quanto a cartola na cabeça de um milionário de Bradford. O momento é agora propício, ele calcula, O jantar acabou, ela está exausta e entediada. Ele procura então envolvê-la em suas carícias Não de todo repelidas, mas tampouco desejadas. Excitado e resoluto, ele afinal investe. Mãos aventureiras não encontram resistência; Sua vaidade dispensa resposta, E faz da indiferença uma dádiva. (E eu, Tirésias, que já sofrera tudo O que nessa cama ou divã fora encenado, Eu, que ao pé dos muros de Tebas me sentei E caminhei por entre os mortos mais sepultos.) Ao despedir-se, concede-lhe o rapaz um beijo protetor E desce a escada escura, tateando o seu caminho . . . Ela volta e mira-se por um instante no espelho, Quase esquecida do amante que se foi; No cérebro vagueia-lhe um difuso pensamento: “Bem, já terminou; e muito me alegra sabê-lo.” Quando uma bela mulher se permite um pecadilho E depois pelo seu quarto ainda passeia, sozinha, Ela a mão deita aos cabelos em automático gesto E põe um disco na vitrola. “Esta música ondula junto a mim por sobre as águas” E ao longo da Strand, Queen Victoria Street acima. Ó Cidade cidade, às vezes posso ouvir Em qualquer bar da Lower Thames Street O álacre lamento de um bandolim E a algazarra que farfalha em bocas tagarelas Onde repousam ao meio-dia os pescadores, onde os muros Da Magnus Martyr empunham O inexplicável esplendor de um jônico branco e ouro. O rio poreja Petróleo e alcatrão As barcaças derivam Ao sabor das marés Rubras velas, Abertas a sotavento, Drapejam nos pesados mastros. As barcaças carregam Toras que derivam rio abaixo Até o braço de Greenwich Para além da Ilha dos Cães. Weialala leia Wallala leialala Elizabeth e Leicester Ao ritmo dos remos A popa figurava Uma concha engalanada ubra e dourada A rápida pulsação das águas Encrespava ambas as margens O vento sudoeste Corrente abaixo carregava O repicar dos sinos Torres brancas WeialaJa leia Wallala leialala “Bondes e árvores cobertos de poeira. Tradução: Ivan Junqueira ¹Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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T.S. Eliot – Poesia – Versos na tarde – 30/05/2017

A Terra Desolada, 1922 T.S Eliot¹ IV. O Sermão do fogo O dossel do rio se rompeu: os derradeiros dedos das folhas Agarram-se às úmidas entranhas dos barrancos. Impressentido, O vento cruza a terra estiolada. As ninfas já partiram. Doce Tâmisa, corre suave, até que meu canto eu termine. O rio não suporta garrafas vazias, restos de comida, Lenços de seda, caixas de papelão, pontas de cigarro E outros testemunhos das noites de verão. As ninfas já partiram. E seus amigos, os ociosos herdeiros de magnatas municipais, Partiram sem deixar vestígios. Às margens do Léman sentei-me e lá chorei . . . Doce Tâmisa, corre suave, até que meu canto eu termine, Doce Tâmisa, corre suave, pois falarei baixinho e quase nada te direi. Atrás de mim, porém, numa rajada fria, escuto O chocalhar dos ossos, e um riso ressequido tangencia o rio. Um rato rasteja macio entre as ervas daninhas, Arrastando seu viscoso ventre sobre a margem Enquanto eu pesco no canal sombrio Durante um crepúsculo de inverno, rodeando por detrás o gasômetro, A meditar sobre o naufrágio do rei meu irmão E sobre a morte do rei meu pai que antes dele pereceu. Brancos corpos nus sobre úmidos solos pegajosos E ossos dispersos numa seca e estreita água-furtada, Que apenas vez por outra os pés dos ratos embaralham. Atrás de mim, porém, de quando em quando escuto O rumor das buzinas e motores, que trarão na primavera Sweeney de volta aos braços da Senhora Porter. ‘Ó a Lua que luminosa brilha Sobre a Senhora Porter e sua filha, ambas A banhar os pés em borbulhante soda.’ Et O ces voix d’enfants chantant dans la coupole! Tiuit tiuit tiuit Tiu tiu tiu tiu tiu tiu Tão rudemente violada. Tradução: Ivan Junqueira ¹Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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T.S. Eliot – Poesia – Versos na tarde – 25/05/2017

Quarta-Feira de Cinzas VI T.S. Eliot¹ VI Conquanto não espere mais voltar Conquanto não espere Conquanto não espere voltar Flutuando entre o lucro e o prejuízo Neste breve trânsito em que os sonhos se entrecruzam No crepúsculo encruzilhado de sonhos entre o nascimento e a morte ( Abençoai-me pai) conquanto agora Já não deseje mais tais coisas desejar Da janela debruçada sobre a margem de granito Brancas velas voam para o mar, voando rumo ao largo Invioladas asas E o perdido coração enrija e rejubila-se No lilás perdido e nas perdidas vozes do mar E o quebradiço espírito se anima em rebeldia Ante a arqueada virga-áurea e a perdida maresia Anima-se a reconquistar O grito da codorniz e o corrupio da pildra E o olho cego então concebe Formas vazias entre as partas de marfim E a maresia reaviva o odor salgado das areias Eis o tempo da tensão entre nascimento e morte O lugar de solidão em que três sonhos se cruzam Entre rochas azuis Mas quando as vozes do instigado teixo emudecerem Que outro teixo sacudido seja e possa responder. Irmã bendita, santa mãe, espírito da fonte e do jardim, Não permiti que entre calúnias a nós próprios enganemos Ensinai-nos o desvelo e o menosprezo Ensinai-nos a estar postos em sossego Mesmo entre estas rochas, Nossa paz em Sua vontade E mesmo entre estas rochas Mãe, irmã E espírito do rio, espírito do mar, Não permiti que separado eu seja E que meu grito chegue a Ti ¹Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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T.S. Eliot – Poesia – Versos na tarde – 23/05/2017

Quarta-Feira de Cinzas V T.S. Eliot¹ V Se a palavra perdida se perdeu, se a palavra usada se gastou Se a palavra inaudita e inexpressa Inexpressa e inaudita permanece, então Inexpressa a palavra ainda perdura, o inaudito Verbo, O Verbo sem palavra, o Verbo Nas entranhas do mundo e ao mundo oferto; E a luz nas trevas fulgurou E contra o Verbo o mundo inquieto ainda arremete Rodopiando em torno do silente Verbo.                           Ó meu povo, que te fiz eu. Onde encontrar a palavra, onde a palavra Ressoará? Não aqui, onde o silêncio foi-lhe escasso Não sobre o mar ou sobre as ilhas, Ou sobre o continente, não no deserto ou na úmida planície. Para aqueles que nas trevas caminham noite e dia Tempo justo e justo espaço aqui não existem Nenhum sítio abençoado para os que a face evitam Nenhum tempo de júbilo para os que caminham A renegar a voz em meio aos uivos do alarido Rezará a irmã velada por aqueles Que nas trevas caminham, que escolhem e depois te desafiam, Dilacerados entre estação e estação, entre tempo e tempo, entre Hora e hora, palavra e palavra, poder e poder, por aqueles Que esperam na escuridão? Rezará a irmã velada Pelas crianças no portão Por aqueles que se querem imóveis e orar não podem: Orai por aqueles que escolhem e desafiam                        Ó meu povo, que te fiz eu. Rezará a irmã velada, entre os esguios Teixos, por aqueles que a ofendem E sem poder arrepender-se ao pânico se rendem E o mundo afrontam e entre as rochas negam? No derradeiro deserto entre as últimas rochas azuis O deserto no jardim o jardim no deserto Da secura, cuspindo a murcha semente da maçã.                      Ó meu povo ¹Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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T.S. Eliot – Poesia – Versos na tarde – 22/05/2017

Quarta-Feira de Cinzas IV T.S. Eliot¹ IV Quem caminhou entre o violeta e o violeta Quem caminhou por entre Os vários renques de verdes diferentes De azul e branco, as cores de Maria, Falando sobre coisas triviais Na ignorância e no saber da dor eterna Quem se moveu por entre os outros e como eles caminhou Quem pois revigorou as fontes e as nascentes tornou puras Tornou fresca a rocha seca e solidez deu às areias De azul das esporinhas, a azul cor de Maria, Sovegna vos Eis os anos que permeiam, arrebatando Flautas e violinos, restituindo Aquela que no tempo flui entre o sono e a vigília, oculta Nas brancas dobras de luz que em torno dela se embainham. Os novos anos se avizinham, revivendo Através de uma faiscante nuvem de lágrimas, os anos, resgatando Com um verso novo antigas rimas. Redimem O tempo, redimem A indecifrada visão do sonho mais sublime Enquanto ajaezados unicórnios a essa de ouro conduzem. A irmã silenciosa em véus brancos e azuis Por entre os teixos, atrás do deus do jardim, Cuja flauta emudeceu, inclina a fronte e persigna-se Mas sem dizer palavra alguma Mas a fonte jorrou e rente ao solo o pássaro cantou Redimem o tempo, redimem o sonho O indício da palavra inaudita, inexpressa Até que o vento, sacudindo o teixo, Acorde um coro de murmúrios E depois disto nosso exílio ¹Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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T.S. Eliot – Poesia – Versos na tarde – 19/05/2017

Quarta-Feira de Cinzas T.S. Eliot¹ I Porque não mais espero retornar Porque não espero Porque não espero retornar A este invejando-lhe o dom e àquele o seu projeto Não mais me empenho no .empenho de tais coisas (Por que abriria a velha águia suas asas?) Por que lamentaria eu, afinal, O esvaído poder do reino trivial? Porque não mais espero conhecer A vacilante glória da hora positiva Porque não penso mais Porque sei que nada saberei Do único poder fugaz e verdadeiro Porque não posso beber Lá, onde as árvores florescem e as fontes rumorejam, Pois lá nada retorna à sua forma Porque sei que o tempo é sempre o tempo E que o espaço é sempre o espaço apenas E que o real somente o é dentro de um tempo E apenas para o espaço que o contém Alegro-me de serem as coisas o que são E renuncio à face abençoada E renuncio à voz Porque esperar não posso mais E assim me alegro, por ter de alguma coisa edificar De que me possa depois rejubilar E rogo a Deus que de nós se compadeça E rogo a Deus porque esquecer desejo Estas coisas que comigo por demais discuto Por demais explico Porque não mais espero retornar Que estas palavras afinal respondam Por tudo o que foi feito e que refeito não será E que a sentença por demais não pese sobre nós Porque estas asas de voar já se esqueceram E no ar apenas são andrajos que se arqueiam No ar agora cabalmente exíguo e seco Mais exíguo e mais seco que o desejo Ensinai-nos o desvelo e o menosprezo Ensinai-nos a estar postos em sossego. Rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte Rogai por nós agora e na hora de nossa morte. ¹Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]  

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