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Manuel António Pina – Poesia – 23/11/24

Boa noite. Narciso Manuel Antônio Pina Quando me dizes “Vem”, já eu parti e já estou tão próximo de ti que sou eu quem me chama e quem te chama e é o meu amor que em ti me ama. Se me olhas sou eu que me contemplo longamente através do teu olhar e moro em ti e sou eu o lugar e demoro-me em ti e sou o tempo. Eu sou talvez aquilo que me falta (a alma se sou corpo, o corpo se sou alma) em ti, e afogo-me na tua vida como na minha imagem desmedida: Sol, Lua, água, ouro, horizontalidade, concordância, indiferente ordem da infância, união conjugal, morte, repouso. in ‘Cuidados Intensivos’

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Manuel António Pina – Versos na tarde

Aos meu livros Manuel António Pina ¹ Chamaram-vos tudo, interessantes, pequenos, grandes, ou apenas se calaram, ou fecharam os longos ouvidos à vossa inútil voz passada em sujos espelhos buscando o rosto e as lágrimas que (eu é que sei!) me pertenciam, pois era eu quem chorava. Um bancário calculava que tínheis curto saldo de metáforas; e feitas as contas (porque os tempos iam para contas) a questão era outra e ainda menos numerosa (e seguramente, aliás, em prosa). Agora, passando ainda para sempre, olhais-me impacientemente; como poderíamos, vós e eu, escapar sem de novo o trair, a esse olhar? Levai-me então pela mão, como nos levam os filhos pela mão: sem que se apercebam. Partiram todos, os salões onde ecoavam ainda há pouco os risos dos convidados estão vazios; como vós agora, meus livros: papéis pelo chão, restos, confusos sentidos. E só nós sabemos que morremos sozinhos. (Ao menos escaparemos à piedade dos vizinhos) ¹ Manuel António Pina * Sabugal, Portugal – 18 de novembro de 1943 d.C Ps. Mantida a grafia do Português de Portugal    [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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