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Dostoievski – Boa noite – 11/02/24

“Escutai — eu sei que é melhor não falar! É melhor simplesmente dar um bom exemplo, simplesmente pôr mãos à obra. Eu fiz isso, pus, e… e… oh! como pode alguém, realmente, ser infeliz? Oh! que importa a dor, que importa o infortúnio, se soubermos como ser felizes? Sabei, não consigo compreender como podemos passar por uma árvore verde e não ficarmos felizes só de olhar para ela! Como podemos falar com uma pessoa e não nos sentirmos felizes só por amá-la! Oh, é culpa minha não conseguir expressar-me suficientemente bem, mas há coisas maravilhosas a cada passo que dou, coisas que até a pessoa mais infeliz deve reconhecer como belas. Olhai para uma criancinha, olhai para o amanhecer do divino dia, olhai para a erva a crescer, olhai nos olhos que vos amam, quando eles vos contemplam!”. —FIODOR DOSTOIEVSKI (11 de Novembro de 1821 — 9 de Fevereiro de 1881), escritor e pensador russo, em “O Idiota”. Excerto, que traduzimos da versão inglesa em www.gutenberg.org/ebooks/2638. Existem duas traduções desta obra disponíveis em Portugal: a de António Pescada, na Relógio d’Água, e a de Nina Guerra e Filipe Guerra, na Editorial Presença.

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Anna Akhmatova – Poesia – 23/11/23

Boa noite Os mistérios do ofício Anna Akhmatova ¹ Não me interessam as hostes das odes Nem o encanto das fantasias elegíacas. Quanto a mim, nos versos tudo deve ser a despropósito, Não ao modo das outras pessoas. Se soubésseis de que porcarias Crescem os versos sem terem vergonha, Qual pampilho amarelo nas cercas, Qual a bardana ou celga-brava. Grito irritado, cheiro de pez fresco, Misterioso bolor na parede… E já soa o verso, fogoso, terno, Para vossa alegria e minha. ¹ Anna Akhmatova * Leningrado, Rússia – 23 de Junho de 1889 d.C + Leningrado, Rússia – 1966 d.C

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Maiakovsk – Versos na tarde – 01/03/2015

E então que quereis?… Maiakovsk ¹ Fiz ranger as folhas de jornal abrindo-lhes as pálpebras piscantes. E logo de cada fronteira distante subiu um cheiro de pólvora perseguindo-me até em casa. Nestes últimos vinte anos nada de novo há no rugir das tempestades. Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da história é agitado. As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas. ¹ Vladimir Vladimirovitch Maiakovsk * Georgia, Rússia – 19 de Julho de 1893 d.C + Moscou, Rússia – 14 de Abril de 1930 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Boris Pasternak – Versos na tarde – 03/12/2014

É impróprio ser famoso Boris Pasternak ¹ É impróprio ser famoso Pois não é isso que eleva. E não vale a pena ter arquivos Nem perder tempo com manuscritos velhos. O caminho da criação é a entrega total E não fazer barulho ou ter sucesso. Infelizmente, nada significa Como uma alegoria andar de boca em boca. Mas é preciso viver sem pretensões, Viver de tal modo que no fim de contas Venha até nós um amor ideal E ouçamos o apelo dos anos que hão-de vir. O que é preciso rever É o destino, não antigos papéis; Lugares e capítulos de uma vida inteira Anotar ou emendar. E mergulhar no anonimato, E ocultar nele os nossos passos, Como foge a paisagem na neblina Em plena escuridão. Que outros nesse rastro vivo Seguirão o teu caminho passo a passo, Mas tu próprio não deves distinguir A derrota da vitória. E não deves por um só instante Recuar ou trair o que tu és, Mas estar vivo, e sói vivo, E só vivo – até ao fim. Tradução de Manuel de Seabra ¹ Boris Leonidovitch Pasternak Prêmio Nobel de Literatura em 1958 * Moscou, Rússia – 10 de fevereiro de 1890 d.C + Moscou, Rússia – 31 de maio de 1960 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Fiódor Dostoievsky – Reflexões na tarde – 15/08/2014

O Grande Inquisidor Sobre um trecho do livro os “Irmãos Karamazov” Fiódor Dostoievsky ¹ Ocasionalmente grafado como Dostoievsky …( Jesus havia voltado à terra e andava incógnito entre as pessoas Todos o reconheciam e sentiam o seu poder, mas ninguém se atrevia a pronunciar o seu nome. Não era necessário. De longe o Grande Inquisidor o observa no meio da multidão e ordena que ele seja preso e trazido à sua presença.. Então, diante do prisioneiro silencioso, ele profere a sua acusação )…“ “Não há nada mais sedutor aos olhos dos homens do que a liberdade de consciência, mas também não há nada mais terrível. Em lugar de pacificar a consciência humana, de uma vez por todas, mediante sólidos princípios, Tu lhe ofereceste o que há de mais estranho, de mais enigmático, de mais indeterminado, tudo o que ultrapassava as forças humanas: a liberdade. Agiste, pois, como se não amasses os homens… Em vez de Te apoderares da liberdade humana, Tu a multiplicaste, e assim fazendo, envenenaste com tormentos a vida do homem, para toda a eternidade…” Os homens dizem amar a liberdade, mas, de posse dela, são tomados por um grande medo e fogem para abrigos seguros. A liberdade dá medo. Os homens são pássaros que amam o vôo, mas têm medo dos abismos. Por isso abandonam o vôo e se trancam em gaiolas. Somos assim : sonhamos o vôo mas tememos a altura . Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o vôo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o vôo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram. É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que eles voariam se as portas estivessem abertas. A verdade é oposto. Não há carcereiros. Os homens preferem as gaiolas aos vôos. São eles mesmos que constroem as gaiolas em que se aprisionam…” Deus dá a nostalgia pelo vôo. As religiões constroem gaiolas Os hereges são aqueles que odeiam as gaiolas e abrem as suas portas para que o Pássaro Encantado voe livre. Esse pecado, abrir as portas das gaiolas para que o Pássaro voe livre, não tem perdão. O seu destino é a fogueira. Palavra do Grande Inquisidor. 1 Fiódor Mikhailovich Dostoiévski * Moscou, Rússia – 11 de novembro de 1821 d.C + São Petersburgo, Rússia – 9 de Fevereiro de 1881 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Maiakovski – Versos na tarde – 07/02/2013

Blusa fátua Maiakovski ¹ Costurarei calças pretas com o veludo da minha garganta e uma blusa amarela com três metros de poente. pela Niévski do mundo, como criança grande, andarei, donjuan, com ar de dândi. Que a terra gema em sua mole indolência: “Não viole o verde das minhas primaveras!” Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência: “No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!” Não sei se é porque o céu é azul celeste e a terra, amante, me estende as mãos ardentes que eu faço versos alegres como marionetes e afiados e precisos como palitar dentes! Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta garota que me olha com amor de gêmea, cubram-me de sorrisos, que eu, poeta, com flores os bordarei na blusa cor de gema! Tradução: Augusto de Campos ¹ Vladimir Vladimirovitch Maiakovsk * Georgia, Rússia – 19 de Julho de 1893 d.C + Moscou, Rússia – 14 de Abril de 1930 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Maiakovsk – Versos na tarde

Ar de Noturno Maiakovsk ¹ Tenho muito medo das folhas mortas, medo dos prados cheios de orvalho. eu vou dormir; se não me despertas, deixarei a teu lado meu coração frio. O que é isso que soa bem longe? Amor. O vento nas vidraças, amor meu! Pus em ti colares com gemas de aurora. Por que me abandonas neste caminho? Se vais muito longe, meu pássaro chora e a verde vinha não dará seu vinho. O que é isso que soa bem longe? Amor. O vento nas vidraças, amor meu! Nunca saberás, esfinge de neve, o muito que eu haveria de te querer essas madrugadas quando chove e no ramo seco se desfaz o ninho. O que é isso que soa bem longe? Amor. O vento nas vidraças, amor meu! ¹ Vladimir Vladimirovitch Maiakovsk * Georgia, Rússia – 19 de Julho de 1893 d.C + Moscou, Rússia – 14 de Abril de 1930 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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