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Ledo Ivo – Poesia – 21/03/24

Boa noite A Queimada Ledo Ivo Queime tudo o que puder: as cartas de amor as contas telefônicas o rol de roupas sujas as escrituras e certidões as inconfidências dos confrades ressentidos a confissão interrompida o poema erótico que ratifica a impotência e anuncia a arteriosclerose os recortes antigos e as fotografias amareladas. Não deixe aos herdeiros esfaimados nenhuma herança de papel. Seja como os lobos: more num covile só mostre à canalha das ruas os seus dentes afiados. Viva e morra fechado como um caracol. Diga sempre não à escória eletrônica. Destrua os poemas inacabados, os rascunhos, as variantes e os fragmentos que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas. Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha. Não confie a ninguém o seu segredo. A verdade não pode ser dita.

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Ledo Ivo – Poesia – 22/11/23

Boa noite Soneto Puro Lêdo Ivo¹ Fique o amor onde está; seu movimento nas equações marítimas se inspira para que, feito o mar, não se retire das verdes áreas de seu vão lamento. Seja o amor como a vaga ao vago intento de ser colhida em mãos; nela se mire e, fiel ao seu fulcro, não admire as enganosas rotações do vento. Como o centro de tudo, não se afaste da razão de si mesmo, e se contente em luzir para o lume que o ensolara. Seja o amor como o tempo — não se gaste e, se gasto, renasça, noite clara que acolhe a treva, e é clara novamente ¹Lêdo Ivo * Maceió, AL – 18 de Fevereiro de 1924 + Sevilha, Espanha – 23 de dezembro de 2012

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Ledo Ivo – Poesia – 12/08/2023

Boa noite A Queimada Ledo Ivo ¹ Queime tudo o que puder: as cartas de amor as contas telefônicas o rol de roupas sujas as escrituras e certidões as inconfidências dos confrades ressentidos a confissão interrompida o poema erótico que ratifica a impotência e anuncia a arteriosclerose os recortes antigos e as fotografias amareladas. Não deixe aos herdeiros esfaimados nenhuma herança de papel. Seja como os lobos: more num covil e só mostre à canalha das ruas os seus dentes afiados. Viva e morra fechado como um caracol. Diga sempre não à escória eletrônica. Destrua os poemas inacabados, os rascunhos, as variantes e os fragmentos que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas. Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha. Não confie a ninguém o seu segredo. A verdade não pode ser dita. Lêdo Ivo * Maceió, AL – 18 de Fevereiro de 1924 +Sevilha, Espanha – 23 de dezembro de 2012

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Lêdo Ivo – Versos na tarde – 14/04/2016

A Passagem Lêdo Ivo¹ “Que me deixem passar – eis o que peço diante da porta ou diante do caminho. E que ninguém me siga na passagem. Não tenho companheiros de viagem nem quero que ninguém fique ao meu lado. Para passar, exijo estar sozinho, somente de mim mesmo acompanhado. Mas caso me proíbam de passar por seu eu diferente ou indesejado mesmo assim eu passarei. Inventarei a porta e o caminho e passarei sozinho”. ¹Lêdo Ivo * Maceió, AL – 18 Fevereiro 1924 d.C + Sevilha, Espanha – 23 de dezembro de 2012 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Lêdo Ivo – Versos na tarde – 13/08/2015

Soneto Puro Lêdo Ivo¹ Fique o amor onde está; seu movimento nas equações marítimas se inspire para que, feito o mar, não se retire das verdes áreas de seu vão lamento. Seja o amor como a vaga ao vago intento de ser colhida em mãos; nela se mire e, fiel ao seu fulcro, não admire as enganosas rotações do vento. Como o centro de tudo, não se afaste da razão de si mesmo, e se contente em luzir para o lume que o ensolara. Seja o amor como o tempo — não se gaste e, se gasto, renasça, noite clara que acolhe a treva, e é clara novamente ¹Lêdo Ivo * Maceió, AL – 18 de Fevereiro de 1924 d.C + Sevilha, Espanha – 23 de dezembro de 2012 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Ledo Ivo – Versos na tarde – 05/12/2014

Os frutos da imobilidade Lêdo Ivo ¹ Entre a tarde e a arquitetura, a oclusão e a consonlância, canto-me dormido no horizonte na viagem de olhos cerrados para as catástrofes do sono. E meu coração que é sombrio como um sol visto às avessas tem canção ininterrupta, fanal de sino acordado ou os instantes plantados no dia do dia seguinte. Canto o tráfico do que sou diante da luz da aurora, a mulher do meu amor e eu sempre seguro e calmo. Luz no caminho noturno que cheira a mato pisado. O romper do dia sustenta-me com seus címbalos de mármore. Não entôo o desencontro no amor da tarde, ou a cadeia que nasce de tuas palavras. Canto a canção que me envolve com os teus textos cruzados como o trânsito na chuva em uma rua chanfrada. Não me inclino às harmonias descobertas no tédio, elipses de voos incomunicáveis. No vasto chão do acaso eu lúcido apanho a rosa. Ei melodia! e o mar ao meu lado comparece com todos os seus navios inclusive os naufragados que retornam com seus mastros aos preâmbulos das nuvens. Guardando um sol no meu peito, falo de amor, compareço aos espelhos dos instantes onde a vida se reflete em termos de diamante. E aos torvelinhos de outubro – momentos que são pirâmides – canto a vida em que pereço entre dois pavimentos. ¹ Lêdo Ivo * Maceió, AL – 18 de Fevereiro de 1924 d.C + Sevilha, Espanha – 23 de dezembro de 2012 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Ledo Ivo – Versos na tarde – 09/12/2013

Sobrevivente Ledo Ivo¹ Sou um sobrevivente na passagem entre o dia e a noite. Onde estão as figuras de antigamente – em que estrelas, em que túmulos se esconderam? Gari implacável, a vida varre os sonhos dos homens e, na praça vazia, vagam os fantasmas dos fracassos dissimulados e dos gordos perjúrios. Sozinho na grande cidade que engole as promessas dos homens, vejo-me passar de repente no jovem poeta desconhecido que atravessa o meu caminho. Deixo de ser eu mesmo para ser, por um instante, o jovem poeta sem nome. Que ele seja fiel à sua promessa de agora, eis o que peço. Que ele seja uma dessas criaturas para as quais nada é perdido, segundo a lição de Henry James. Mas a quem dirigir esse pedido? Os deuses inexistentes não me ouvem. À vida cega e surda? Ao mar longínquo e mudo? O jovem poeta Ledo Ivo dilui-se na sombra da tarde. E anoitece”. ¹Lêdo Ivo * Maceió, AL – 18 de Fevereiro de 1924 d.C + Sevilha, Espanha – 23 de dezembro de 2012 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Lêdo Ivo – Versos na tarde – 09/09/2013

A Passagem Lêdo Ivo ¹ Que me deixem passar – eis o que peço diante da porta ou diante do caminho. E que ninguém me siga na passagem. Não tenho companheiros de viagem nem quero que ninguém fique ao meu lado. Para passar, exijo estar sozinho, somente de mim mesmo acompanhado. Mas caso me proíbam de passar por seu eu diferente ou indesejado mesmo assim eu passarei. Inventarei a porta e o caminho e passarei sozinho”. ¹ Lêdo Ivo * Maceió, AL – 18 de Fevereiro de 1924 d.C + Sevilha, Espanha – 23 de dezembro de 2012 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Lêdo Ivo – Versos na tarde – 06/02/2013

Soneto puro Lêdo Ivo ¹ Fique o amor onde está; seu movimento nas equações marítimas se inspire para que, feito o mar, não se retire das verdes áreas de seu vão lamento. Seja o amor como a vaga ao vago intento de ser colhida em mãos; nela se mire e, fiel ao seu fulcro, não admire as enganosas rotações do vento. Como o centro de tudo, não se afaste da razão de si mesmo, e se contente em luzir para o lume que o ensolara. Seja o amor como o tempo — não se gaste e, se gasto, renasça, noite clara que acolhe a treva, e é clara novamente. ¹ Lêdo Ivo * Maceió, AL – 18 de Fevereiro de 1924 d.C + Sevilha, Espanha – 23 de dezembro de 2012 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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