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Fernando Pessoa – Versos na tarde – 17/08/2016

O amor quando se revela Fernando Pessoa¹ O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p’ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente Cala: parece esquecer Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse Pra saber que a estão a amar! Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar… ¹Fernando Antonio Nogueira Pessoa * Lisboa,Portugal – 13,Junho 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30,Novembro 1935 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Fernando Pessoa – Versos na tarde – 12/07/2016

Vossa formosa juventude leda Fernando Pessoa/Ricardo Reis¹ Vossa formosa juventude leda, Vossa felicidade pensativa, Vosso modo de olhar a quem vos olha, Vosso não conhecer-vos — Tudo quanto vós sois, que vos semelha À vida universal que vos esquece Dá carinho de amor a quem vos ama Por serdes não lembrando Quanta igual mocidade a eterna praia De Cronos, pai injusto da justiça, Ondas, quebrou, deixando à só memória Um branco som de espuma. ¹ Fernando António Nogueira Pessoa * Lisboa, Portugal – 13 de junho de 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30 de novembro de 1935 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Fernando Pessoa – Versos na Tarde – 10/04/2015

Tudo que sinto, tudo que penso Fernando Pessoa¹ Tudo que sinto, tudo quanto penso, Sem que eu o queira se me converteu Numa vasta planície, um vago extenso Onde há só nada sob o nulo céu. Não existo senão para saber Que não existo, e, como a recordar, Vejo boiar a inércia do meu ser No meu ser sem inércia, inútil mar. Sargaço fluido de uma hora incerta, Quem me dará que o tenha por visão? Nada, nem o que tolda a descoberta Com o saber que existe o coração. ¹ Fernando António Nogueira Pessoa * Lisboa, Portugal – 13 de junho de 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30 de novembro de 1935 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Fernando Pessoa – Versos na tarde – 14/01/2015

O destino: As minhas mãos invisíveis Fernando Pessoa¹ As minhas mãos invisíveis Pesam sobre o mundo E as coisas, insensíveis Ao seu condestinar profundo, Dormem no sonho de verdade Chamado a sua liberdade. Todos são malhas de uma rede Que no seu desfazer Julgam que vivem e têm sede De em si crer. ¹ Fernando Antonio Nogueira Pessoa * Lisboa, Portugal – 13 de Junho de 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30 de Novembro de 1935 d.C >>>Biografia [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Fernando Pessoa – Versos na tarde – 02/09/2014

Ah! Querem uma Luz Fernando Pessoa ¹ /Alberto Caeiro Ah! querem uma luz melhor que a do Sol! Querem prados mais verdes do que estes! Querem flores mais belas do que estas que vejo! A mim este Sol, estes prados, estas flores contentam-me. Mas, se acaso me descontentam, O que quero é um sol mais sol que o Sol, O que quero é prados mais prados que estes prados, O que quero é flores mais estas flores que estas flores — Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira! ¹ Fernando Antonio Nogueira Pessoa * Lisboa, Portugal – 13 de Junho de 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30 de Novembro de 1935 d.C >>biografia

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Fernando Pessoa – Versos na tarde – 11/07/2014

Teus Olhos Fernando Pessoa ¹ Teus olhos entristecem. Nem ouves o que digo. Dormem, sonham esquecem… Não me ouves, e prossigo. Digo o que já, de triste, Te disse tanta vez… Creio que nunca o ouviste De tão tua que és. Olhas-me de repente De um distante impreciso Com um olhar ausente. Começas um sorriso. Continuo a falar. Continuas ouvindo O que estás a pensar, Já quase não sorrindo. Até que neste ocioso Sumir da tarde fútil, Se esfolha silencioso O teu sorriso inútil. ¹ Fernando Antonio Nogueira Pessoa * Lisboa, Portugal – 13 de Junho de 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30 de Novembro de 1935 d.C >> biografia de Fernado Pessoa [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Fernando Pessoa – Versos na tarde – 22/04/2014

A Espantosa Realidade das Cousas Fernando Pessoa/Alberto Caeiro ¹ A espantosa realidade das cousas É a minha descoberta de todos os dias. Cada cousa é o que é, E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, E quanto isso me basta. Basta existir para se ser completo. Tenho escrito bastantes poemas. Hei de escrever muitos mais. Naturalmente. Cada poema meu diz isto, E todos os meus poemas são diferentes, Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto. Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra. Não me ponho a pensar se ela sente. Não me perco a chamar-lhe minha irmã. Mas gosto dela por ela ser uma pedra, Gosto dela porque ela não sente nada. Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo. Outras vezes oiço passar o vento, E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido. Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto; Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo, Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar; Porque o penso sem pensamentos Porque o digo como as minhas palavras o dizem. Uma vez chamaram-me poeta materialista, E eu admirei-me, porque não julgava Que se me pudesse chamar qualquer cousa. Eu nem sequer sou poeta: vejo. Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho: O valor está ali, nos meus versos. Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade. ¹ Fernando Antonio Nogueira Pessoa * Lisboa, Portugal – 13 de Junho de 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30 de Novembro de 1935 d.C >> biografia de Fenando Pessoa [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Fernando Pessoa – Versos na tarde – 30/03/2014

O amor é uma companhia Fernando Pessoa/Alberto Caeiro ¹ O amor é uma companhia. Já não sei andar só pelos caminhos, Porque já não posso andar só. Um pensamento visível faz-me andar mais depressa E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo. Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo. E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar. Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas. Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela. Todo eu sou qualquer força que me abandona. Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio. ¹ Fernando Antonio Nogueira Pessoa * Lisboa, Portugal – 13 de Junho de 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30 de Novembro de 1935 d.C >> biografia de Fernando Pessoa [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Fernando Pessoas – Prosa na tarde

Livro do desassossego de Bernardo Soares Fernando Pessoa ¹ “Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura.” Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda a metafísica que espontaneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à minha janela sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um esplendor alado cuja vibração me estremece no corpo todo. “Sou do tamanho do que vejo!”Cada vez que penso esta frase com toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo. “Sou do tamanho do que vejo!” Que grande posse mental vai desde o poço das emoções profundas até às altas estrelas que se reflectem nele e, assim, em certo modo, ali estão. E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objectiva dos céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando. “Sou do tamanho do que vejo!” E o vago luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meio-negro do horizonte. Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvageria ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos grandes espaços da matéria vazia. Mas recolho-me e abrando-me. “Sou do tamanho do que vejo!” E a frase fica sendo-me a alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer.” Fernando Antonio Nogueira Pessoa * Lisboa, Portugal – 13 de Junho de 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30 de Novembro de 1935 d.C ->> biografia [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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