Internet e Jornais: quem está ganhando a disputa?
O Brasil ganhou a copa do mundo e futebol num domingo e ficamos sabendo na quarta feira. Esse era o mundo pré internet. Sempre que um novo meio de comunicação surge, decreta-se o fim dos anteriores. Um grupo de investigadores da Universidade de Stanford, nos EUA, que defende que a era da Internet apenas contribuiu para acentuar uma tendência que já se vinha desenhando há décadas. Para a análise, compilaram dados relativos à imprensa escrita no país durante os últimos três séculos, disponibilizando a informação através de um mapa interativo que permite aos internautas observar a evolução do número de publicações nas várias zonas do país. A história, essa senhora implacável, nos ensina que não é bem assim. O Editor Reportagem de Márcia de Chiara, O Estado de São Paulo de quarta-feira, focalizou com nitidez os debates e opiniões que marcaram o Seminário de Circulação promovido pela Federação Nacional dos Jornais na capital paulista. Reuniram-se Valter Matos Júnior, vice-presidente da FENARJ, proprietário do Grupo Lance, Marcelo Moraes, do Infoglobo, Antonio Teixeira Mendes, da Folha de São Paulo, Eduardo Sirotsky, Zero Hora de Porto Alegre e da TV RBS, e Sílvio Genesini, de O Estado de São Paulo. Apesar de empolgados com o crescimento das vendas de jornais, da ordem de 5%, no primeiro semestre de 2011, e também com o aumento do número de computadores de 15 para 20% dos domicílios, como informou recentemente o Ibope, não chegaram a nenhuma conclusão.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Nem poderiam. Primeiro colocaram em discussão a hipótese de os jornais cobrarem pelo acesso dos internautas a seus conteúdos. Um desastre onde tal sistema foi colocado em prática. Os debatedores concluíram que, depois de navegarem de graça nas páginas do amanhã, os que procuram se antecipar à alvorada dos fatos não têm condições psicológicas de aderirem a um desembolso. Em segundo lugar, aí a minha opinião, a cobrança não é fácil e implica em vários problemas. Um deles a retração natural pelo uso do cartão de crédito. Mas não é somente isso. Foram relatadas experiências em alguns jornais do mundo, negativas, exceto publicações como a do Wall Street Journal, de Murdoch, quando pelas manhãs em Nova Iorque acompanham as oscilações da Bolsa de Valores e do mercado de cambio. Mas neste caso a audiência pessoal é numericamente reduzida e bastante profissional. O site mais acessado do Brasil, o UOL, Folha de São Paulo, 600 mil acessos por dia, entre nós domina este campo de informação. Restrito aos assinantes do jornal, não cobra pelos toques. Porém a questão não é apenas essa. É que a abertura dos sites acarreta um efeito decisivo: quanto maior for, mais volumosa será a comercialização publicitária. O New York Times tentou a cobrança, colocou-a em prática, mas não está dando certo. Tanto assim que a receita do jornal vem 40% da circulação (venda nas bancas e assinaturas), 39% da publicidade impressa, 14 da publicidade digital. E, pelo que se conclui, 7% dos acessos. Não compensa. Porque, quanto maior for o número de acessos, mais ampla será também a publicidade no espaço aberto pelas telas. Portanto forçar o mercado de um lado, para expandir receita, conduz à sua retração de outro. Encolhe. Todos esses pontos comprovam a inevitável convergência que acentuei no título. Vejam só: em 2010, a publicidade injetada nos meios de comunicação brasileiros atingiu cerca de 40 bilhões de reais. A televisão absorveu 25 bilhões, os jornais e revistas 9,4 bilhões, as emissoras de rádio 3 bilhões e a publicidade pela Internet 2,6 bilhões de reais. Mas a publicidade comercial, quer dizer os anúncios, não o pagamento pelo acesso. O volume geral das mensagens pagas em 2010 elevou-se na escala de 10% em relação ao de 2009. No mesmo espaço de tempo, a nossa população avançou apenas 1,2%, segundo o IBGE. O crescimento do espaço de publicidade evidenciou-se sem a cobrança pela visão dos conteúdos jornalísticos. Assim, penso, é legítimo concluir que os novos horizontes da comunicação, seja no Brasil, seja no mundo, é a convergência entre os meios. Quanto às mensagens comerciais também. Mas relativamente às mensagens livremente informativas e opinativas, não. Pois se fossem idênticas como a publicidade, estaríamos caminhando para um cenário único. E não é nada disso. Pedro do Coutto/Tribuna da Imprensa