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Paul Eluard – Poesia – 07/10/23

Boa noite Liberdade Paul Eluard Nos meus cadernos de escola Nesta carteira nas árvores Nas areias e na neve Escrevo teu nome Em toda página lida Em toda página branca Pedra sangue papel cinza Escrevo teu nome Nas imagens redouradas Na armadura dos guerreiros E na coroa dos reis Escrevo teu nome Nas jungles e no deserto Nos ninhos e nas giestas No céu da minha infância Escrevo teu nome Nas maravilhas das noites No pão branco da alvorada Nas estações enlaçadas Escrevo teu nome Nos meus farrapos de azul No tanque sol que mofou No lago lua vivendo Escrevo teu nome Nas campinas do horizonte Nas asas dos passarinhos E no moinho das sombras Escrevo teu nome Em cada sopro de aurora Na água do mar nos navios Na serrania demente Escrevo teu nome Até na espuma das nuvens No suor das tempestades Na chuva insípida e espessa Escrevo teu nome Nas formas resplandecentes Nos sinos das sete cores E na física verdade Escrevo teu nome Nas veredas acordadas E nos caminhos abertos Nas praças que regurgitam Escrevo teu nome Na lâmpada que se acende Na lâmpada que se apaga Em minhas casas reunidas Escrevo teu nome No fruto partido em dois de meu espelho e meu quarto Na cama concha vazia Escrevo teu nome Em meu cão guloso e meigo Em suas orelhas fitas Em sua pata canhestra Escrevo teu nome No trampolim desta porta Nos objetos familiares Na língua do fogo puro Escrevo teu nome Em toda carne possuída Na fronte de meus amigos Em cada mão que se estende Escrevo teu nome Na vidraça das surpresas Nos lábios que estão atentos Bem acima do silêncio Escrevo teu nome Em meus refúgios destruídos Em meus faróis desabados Nas paredes do meu tédio Escrevo teu nome Na ausência sem mais desejos Na solidão despojada E nas escadas da morte Escrevo teu nome Na saúde recobrada No perigo dissipado Na esperança sem memórias Escrevo teu nome E ao poder de uma palavra Recomeço minha vida Nasci pra te conhecer E te chamar Liberdade Tradução: Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira ¹ Eugène-Émile-Paul Grindel * Saint-Denis, França – 1895 d.C + Paris, França – 1952 d.C

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Paul Éluard – Poesia – 04/01/24

Boa noite Seus olhos sempre puros Paul Éluard¹ Dias de lentidão, dias de chuva, Dias de espelhos quebrados e agulhas perdidas, Dias de pálpebras fechadas ao horizonte [ dos mares, De horas em tudo semelhantes, dias de cativeiro. Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas E as flores, meu espírito é desnudo feito o amor, A aurora que ele esquece o faz baixar a cabeça E contemplar seu próprio corpo obediente e vão. Vi, no entanto, os olhos mais belos do mundo, Deuses de prata que tinham safiras nas mãos, Deuses verdadeiros, pássaros na terra E na água, vi-os. Suas asas são as minhas, nada mais existe Senão o seu vôo a sacudir minha miséria. Seu vôo de estrela e luz, Seu vôo de terra, seu vôo de pedra Sobre as vagas de suas asas. Meu pensamento sustido pela vida e pela morte. Tradução: José Paulo Paes ¹Eugène Émile Paul Grindel * Saint-Denis, França – 1895 + Paris, França – 1952 O poeta Paul Éluard – ou, no cartório, Eugène Émile Paul Grindel, nasceu em Saint-Denis, hoje um subúrbio ao norte de Paris. O “Éluard”, adotado depois, era o sobrenome de sua avó materna. Com 16 anos, acometido de tuberculose, foi internado no sanatório de Clavadel, na Suíça, onde teve como colega o nosso Manuel Bandeira. Foi o primeiro encontro de Éluard com um grande artista brasileiro.

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Paul Elouard – Versos na tarde – 07/05/2015

Gritar Paul Elouard¹ Aqui a ação simplifica-se Derrubei a paisagem inexplicável da mentira Derrubei os gestos sem luz e os dias impotentes Lancei por terra os propósitos lidos e ouvidos Ponho-me a gritar Todos falavam demasiado baixo falavam e escreviam Demasiado baixo Fiz retroceder os limites do grito A acção simplifica-se Porque eu arrebato à morte essa visão da vida Que lhes destinava um lugar perante mim Com um grito Tantas coisas desapareceram Que nunca mais voltará a desaparecer Nada do que merece viver Estou perfeitamente seguro agora que o Verão Canta debaixo das portas frias Sob armaduras opostas Ardem no meu coração as estações As estações dos homens os seus astros Trémulos de tão semelhantes serem E o meu grito nu sobe um degrau Da escadaria imensa da alegria E esse fogo nu que pesa Torna a minha força suave e dura Eis aqui a amadurecer um fruto Ardendo de frio orvalhado de suor Eis aqui o lugar generoso Onde só dormem os que sonham O tempo está bom gritemos com mais força Para que os sonhadores durmam melhor Envoltos em palavras Que põem o bom tempo nos meus olhos Estou seguro de que a todo o momento Filha e avó dos meus amores Da minha esperança A felicidade jorra do meu grito Para a mais alta busca Um grito de que o meu seja o eco. Paul Éluard, in “Algumas das palavras” dom quixote, 1977 trad. António Ramos Rosa e Luisa Neto Jorge ¹ Eugène-Émile-Paul Grindel * Saint-Denis, França – 1895 d.C + Paris, França – 1952 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Paul Elouard – Versos na tarde – 07/01/2015

Seus olhos sempre puros Paul Elouard ¹ Dias de lentidão, dias de chuva, Dias de espelhos quebrados e agulhas perdidas, Dias de pálpebras fechadas ao horizonte [ dos mares, De horas em tudo semelhantes, dias de cativeiro. Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas E as flores, meu espírito é desnudo feito o amor, A aurora que ele esquece o faz baixar a cabeça E contemplar seu próprio corpo obediente e vão. Vi, no entanto, os olhos mais belos do mundo, Deuses de prata que tinham safiras nas mãos, Deuses verdadeiros, pássaros na terra E na água, vi-os. Suas asas são as minhas, nada mais existe Senão o seu vôo a sacudir minha miséria. Seu vôo de estrela e luz, Seu vôo de terra, seu vôo de pedra Sobre as vagas de suas asas. Meu pensamento sustido pela vida e pela morte. ¹ Eugène-Émile-Paul Grindel * Saint-Denis, França – 1895 d.C + Paris, França – 1952 d.C >> biografia de Paul Elouard [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Paul Elouard – Versos na tarde – 10/07/2014

A noite Paul Elouard ¹ Acaricia o horizonte da noite, busca o coração de azeviche que a aurora recobre de carne. Ele te porá nos olhos pensamentos inocentes, chamas, asas e verduras que o sol ainda não inventou. Não é a noite que te falta, mas o seu poder. ¹ Eugène-Émile-Paul Grindel * Saint-Denis, França – 1895 d.C + Paris, França – 1952 d.C >> biografia de Paul Elouard [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Paul Elouard – Versos na tarde – 29/05/2014

Capital da Dor Paul Elouard ¹ Teu olhar faz a volta do meu coração, Uma roda de dança e de doçura, Auréola do tempo, berço noturno e seguro, E se não sei mais o que tenho vivido É porque teus olhos nem sempre me enxergaram. Folhas do dia e musgo do rocio, Caniços do vento, sorrisos perfumados, Asas que cobrem o mundo de luz, Barcos carregados de céu e mar, Caçadores de ruídos e fontes de cores. Aromas nascidos de uma ninhada de auroras Que sempre jaz sobre a palha dos astros, Como o dia depende da inocência O mundo inteiro depende dos teus olhos puros E o meu sangue todo flui nos olhares deles. ¹ Eugène-Émile-Paul Grindel * Saint-Denis, França – 1895 d.C + Paris, França – 1952 d.C >> biografia de Paul Elouard [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Paul Eluard – Versos na tarde – 10/05/2013

A Noite Paul Eluard* Acaricia o horizonte da noite, busca o coração de azeviche que a aurora recobre de carne. Ele te porá nos olhos pensamentos inocentes, chamas, asas e verduras que o sol ainda não inventou. Não é a noite que te falta, mas o seu poder. Eugène-Émile-Paul Grindel * Saint-Denis, França – 1895 d.C + Paris, França – 1952 d.C >> Biografia de Paul Eluard [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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