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Cesário Verde – Versos na tarde – 19/11/2017

Deslumbramentos Cesário Verde ¹  Milady, é perigoso contemplá-la Quando passa aromática e normal, Com seu tipo tão nobre e tão de sala, Com seus gestos de neve e de metal.   Sem que nisso a desgoste ou desenfade, Quantas vezes, senguindo-lhes as passadas, Eu vejo-a, com real solenidade, Ir impondo toilettes complicadas!…   Em si tudo me atrai como um tesoiro: O seu ar pensativo e senhoril, A sua voz que tem um timbre de oiro E o seu nevado e lúcido perfil!   Ah! Como me estonteia e me fascina… E é, na graça distinta do seu porte, Como a Moda supérflua e feminina, E tão alta e serena como a Morte!…   Eu ontem encontrei-a, quando vinha, Britânica, e fazendo-me assombrar; Grande dama fatal, sempre sozinha, E com firmeza e música no andar!   O seu olhar possui, num jogo ardente, Um arcanjo e um demônio a iluminá-lo; Como um florete, fere agudamente, E afaga como o pelo dum regalo!   Pois bem. Conserve o gelo por esposo, E mostre, se eu beijar-lhe as brancas mãos, O modo diplomático e orgulhoso Que Ana de Áustria mostrava aos cortesãos.   E enfim prossiga altiva como a Fama, Sem sorrisos, dramática, cortante; Que eu procuro fundir na minha chama Seu ermo coração, como a um brilhante.   Mas cuidado, milady, não se afoite, Que hão-de acabar os bárbaros reais; E os povos humilhados, pela noite, Para a vingança aguçam os punhais.   E um dia, ó flor do Luxo, nas estradas, Sob o cetim do Azul e as andorinhas, Eu hei-de ver errar, alucinadas, E arrastando farrapos – as rainhas!   ¹ José Joaquim Cesário Verde * Lisboa, Portugal – 25 de Fevereiro de 1855 + Lumiar, Portugal – 19 de Julho de 1886

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