Eleições 2006 – O que dá prá rir, dá prá chorar.

Guilherme Fiuza – Jornalista – Blog no Mínimo.

Lula vai continuar fazendo a festa das empreiteiras e dos funcionários públicos, gastando o dinheiro que não pode, mas sem se afastar de uma certa disciplina fiscal, o que mantém o mercado a seu lado.

O segredo para essa equação fechar é conhecido: manter a carga de impostos na lua. Mas isso não tem problema, porque a população, essa distraída, não tem escritório de lobby em Brasília. E fora um gemido ou outro, paga sem reclamar. É um povo resignado.

Geraldo Alckmin diz que tem um plano de redução de impostos, fazendo uma reforma tributária de verdade. Tem a seu favor as medidas nessa linha que tomou em São Paulo.
Mas poucos escutam o que ele diz.
Além dos que querem Lula por comodismo, interesse particular ou distração, quem está abafando o discurso do candidato tucano são os próprios tucanos.

Difícil que tenha havido outro político brasileiro com tamanho poder de encantamento sobre a imprensa como José Serra. A imprensa ama Serra. Ele é inteligente, bem informado, adora um telefone e conta muita história para os jornalistas. É de fato um sujeito interessante.

E ainda tem a mística dos que o consideram um homem de esquerda, outro atributo que costuma dar ibope entre jornalistas.
Um desses conceitos de bolso que tem se espalhado muito é o de que Serra hoje estaria à esquerda de Lula. Não quer dizer absolutamente nada, evidentemente, mas faz o maior sucesso.

A suprema ironia é que José Serra é hoje um dos principais aliados da reeleição de Lula. Multiplicam-se notinhas e bordas de noticiário com as impressões digitais de Serra minando a candidatura Alckmin.

Uma vitória de Alckmin seria péssima para os objetivos pessoais de Serra – e eis aí um ser humano repleto de objetivos pessoais –, que teve de coadjuvar por uma década o príncipe dos sociólogos e passaria a coadjuvar o picolé de chuchu, sabe-se lá por quanto tempo.

Sem falar na revanche pela perda da indicação do PSDB para candidato a presidente.

Há quem diga que Serra é o José Dirceu do PSDB. No aspecto do personalismo e da politização de alguns temas da administração (como a defesa incansável da desvalorização do real para agradar à Fiesp), ele de fato se parece com Dirceu.

Mas Serra jamais teria um Waldomiro Diniz como segundo homem da Casa Civil, jamais regeria o dueto Delúbio-Valério para arrecadação de fundos políticos sugados dos cofres públicos. José Serra tem uma combinação de virtudes que falta à maioria dos políticos brasileiros: preparo e personalidade.

Pode ser um grande governador de São Paulo. Mas seu espírito público não parece ser suficiente para deixar de envenenar Alckmin. Às favas a instituição partidária.

Uma boa parte dos indignados com Lula está manifestando a intenção de votar em Heloísa Helena. É principalmente gente esclarecida e remediada. São nostálgicos da pureza que Lula encarnava, e que a realidade da vida triturou, muito antes do mensalão.

Mas essa gente do bem – que não aprende nunca, como diria Pelé – continua procurando o mundo encantado da política no estilingue romântico do PSOL, nos gritos irresistíveis contra os juros, a desigualdade, a maldade, a calvície e a caspa. É um discurso imbatível.

O melhor dos mundos para Heloísa Helena é a reeleição de Lula, para que ela possa herdar a posição mais confortável da política brasileira: ser o Lula de anteontem.

Talvez o mais equilibrado político brasileiro hoje seja o governador de Minas, Aécio Neves. Tem lábia de mel. É amado por todas as correntes políticas por onde passa, fez história como presidente da Câmara dos Deputados. Sabe prestar atenção no cipoal de interesses conflitantes que é a política, tem forte senso de justiça, consegue agradar a um contingente formidável de interlocutores.

Mas Alckmin presidente lhe roubaria o posto de próxima estrela da companhia. Por isso, Aécio é um dos maiores torcedores da vitória de Lula, e sempre que pode trabalha por isso, como quando fugiu do palanque de Alckmin em recente visita do candidato a Minas.

É mais do que hora, portanto, de muita gente boa tirar a máscara de indignação com os escândalos do governo Lula. O anti-Lula não encorpa, não se consolida, não decola porque uma boa parte da patrulha ética não deixa. Por conivência, por calculismo ou por inércia. E chovem notinhas sobre erros estratégicos, trombadas e crises na campanha de Alckmin, como se uma eleição ainda totalmente em aberto estivesse perdida.

A freqüência com que se publica a grande probabilidade – falsa – da troca de candidato do PSDB é algo difícil de se compreender. Esta campanha, sim, parece ir muito bem. Lula agradece aos quatro ventos.
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