Eleições 2006 – 2º Turno – Saiu na mídia

Nem Lula nem Alckmin.
Blog Josias de Souza – http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/

A grande atração do
último debate foi a platéia. Acomodado numa arquibancada circular, um grupo de eleitores indecisos esfregou o caos na cara dos presidenciáveis. E recebeu de volta banalidades, generalidades e números ditados a esmo.

Selecionados pelo Ibope nas cinco regiões do país, os eleitores injetaram no cenário limpinho e artificial da TV Globo a realidade nua e suja do Brasil real.

Os móveis perdidos na casa inundada pela enchente. O irmão desempregado com três filhos para criar. Os direitos trabalhistas sonegados pela carteira não assinada. A filha de quatro anos condenada à escola pública. Os sogros sem plano de saúde submetidos à inclemência do SUS. A imprevidência de uma previdência em colapso. O pesadelo da casa própria. Os três amigos assassinados no bairro pobre. A corrupção. A impunidade.

Alguns dos dramas apresentados pelos eleitores, depois de devidamente filtrados pela produção da Globo, pertencem à pauta de governadores e prefeitos. Mas os presidenciáveis não se dignaram a esclarecer este ponto. O negócio de ambos é a venda de ilusão.

Lula respondeu ao irrespondível com o já tradicional “nunca se fez tanto na história desse país.” Alckmin repetiu que “o Brasil pode mais”. Os dois arremessaram em direção à platéia um amontoado de números e cifras. Ao final do embate, Willian Bonner soou otimista: “Agradeço aos eleitores indecisos, talvez agora não mais indecisos, depois desse debate maravilhoso.” Bobagem.

Com as respostas que ouviram, os argüidores saíram do estúdio com várias certezas. E talvez tenham voltado para casa com uma dúvida. Primeiro, as certezas: a próxima chuva trará novas enchentes; cadente ou não, o desemprego infelicitará outros irmãos; milhões continuarão a trabalhar com as carteiras em branco; a escola pública seguirá formando sub-alunos; os remédios ainda serão escassos no SUS; a casa própria remanescerá como sonho de poucos; outros amigos serão baleados; a impunidade perpetuará a corrupção. Agora, a grande dúvida: em quem votar?

Lula celebrou a presença da realidade: “Acho bom que o povo trouxe pra cá os problemas que, graças a Deus, nós começamos a resolver”. Acrescentou: “Qualquer brasileiro sabe que 90% dos programas sociais no Brasil são programas que nós e a sociedade criamos nesse período”. Disse mais: “Meus adversários estiveram no poder desde a chegada de Cabral e não resolveram nada.”
Alckmin também festejou o encontro com a verdade: “Vimos aqui vários eleitores apresentando os problemas reais da saúde, da educação, do emprego, do meio ambiente, dos transportes, da habitação. Enfim, vimos que o país, depois de quatro anos, não melhorou”. Não mencionou Cabral. Tampouco falou do colega FHC e seus oito anos de mandato.
Os contendores voltaram a calçar as luvas. Alckmin desferiu os já costumeiros jabs éticos. Lula, os cruzados de PCC. A temperatura subiu. Porém, este último debate, como os anteriores, não trouxe nenhum golpe fulminante capaz de provocar uma reviravolta nas intenções de voto dos eleitores.
Se as pesquisas estiverem certas, Lula será reeleito neste domingo. E o quarto debate terá servido apenas para demonstrar aos indecisos e aos resolutos que o Brasil que o presidente continuará administrando a partir de janeiro de 2007 é um país por fazer.
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